domingo, 29 de junho de 2014

Apenas o que pensas...

E chega então o temido dia...
Agora é hora de pôr a prova toda a certeza que conservastes nos teus dias de descanso.
Não vai ser fácil.
Pra todos os efeitos, contas com a robustez que pensas ter adquirido com minha falta. Como palpitarás no decorrer das horas? Quantas partes de medicina serão necessárias para aplacar seu pensamento? E o impulso que pulsas por mim? Como vais deter a necessidade imperiosa, irresistível e impetuosa de pensar em nossa vida em comum? Não sabes o que é isso... Não tens idéia do poder do sismo... E sei com toda a certeza de que o dia amanhecerá após a noite, que não terás a medida suficiente para preencher seus dias de números. O mundo quadradinho tremerá em sua base e suas linhas retas e esquadrinhadas tornar-se-ão ondas curvas, sinuosas, e pensarás novamente em um novo mundo, uma outra possibilidade... E incontinente, lembrarás de minhas palavras e não mais terás a veemência necessária pra cumprir sua prova... Não porque não mereças... mas porque não conseguirás seguir na mesma linha.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Panis et Circenses

Hoje eu não estou bem... já faz um tempo que não estou bem... ás vezes parece que não faço mais parte deste mundo. Tá tudo tão estranho, as coisas tão erradas, que me pergunto o quê, pra quê, por quê... Vejo tantas coisas estranhas acontecendo. O mundo tá de cabeça pra baixo? Será que apenas eu estou nesse questionamento? Eu vejo pessoas ignóbeis, vivendo em um mundo de loucura, mentiras... pessoas utópicas... vagando em um mundo de quimeras. Sei lá...  Hoje meu momento é de perdas... Estou vendo parte de minha história se acabar, esvaindo-se sem que eu entenda a  lógica desta vida. Há uma semana atrás eu perdi uma pessoa da família e hoje perdi uma amiga que conheci em minha adolescência. Quando eu falo em perdas, não falo somente de morte. Não falo apenas do ciclo da vida, que vai se renovando. Eu não acredito na morte como a maioria das pessoas, não é sobre isso que tento escrever agora. Eu discorro sobre a perda, sob outra forma... de uma maneira insana, cruel, sem que se possa entender o porquê de como se deu a perda. Minha tia avó era velhinha, era uma mulher de idade... mas saber que ela vivia, era uma forma, em meu íntimo, de saber que ela era a irmã de minha avó - que faleceu muito jovem e nem conheci... era bom! Mesmo morando em outra cidade, em outro estado, eu sabia que ela estava lá.... que tinha as coisinhas dela... e minha parcela egoísta de ser humano se sentia confortável de saber que ela estava viva, ali, no dia-a-dia dela. O pior da minha dor, é saber que minha querida tia avó, faleceu não apenas pela idade, não porque a missão dela havia acabado por aqui. Minha tia avó foi vítima de um governo corrupto, safado, que não fornece saúde de qualidade a sua nação. Minha dor é a dor de milhões de brasileiros que sofrem sem estrutura hospitalar digna. E olha que minha avó teve assistência moral, cuidado e amor de seu filho... mas me dói saber que meu país trata com descaso o povo que o mantém.  Há 3 semanas, minha comadre perdeu sua mãe, assim como minha tia avó, de infecção hospitalar. E eu também sofri. Hoje, faleceu, igualmente,  de infecção hospitalar minha professora de língua russa. Quando a conheci, eu tinha 14 anos e a cabeça cheia de sonhos. Eu não tinha idéia do que era ser adulta. Minha professora de russo foi professora dos meus tios e também de minha mãe, a quem se tornou grande amiga e assim, os laços de amizade foram se estreitando. Hoje eu tive mais essa perda. Todos esses episódios, me marcam... Eu olho para os lados e vejo pessoas achando o máximo ter Copa do Mundo aqui no nosso país. Eu sinto vergonha! E esse sentimento dói em mim de forma muito particular. Não consigo entender como as pessoas podem aceitar esse evento em um país de tamanha carência. Nos falta de tudo um pouco... faltam escolas e creches para milhares de crianças. Temos milhões de adultos analfabetos. Vivemos uma extrema insegurança. Não podemos contar com uma justiça de igualdade, a isonomia não é para todos, a justiça não é erga omnes. A liberdade de expressão não é  100% democrática... talvez  não chegue a 10%... Eu vejo tanta sujeira pra todos os lados. Eu ainda vejo a fome nos rostos, apesar de tantas bolsas no governo. É tanta carência, falta tanto a este país tão lindo, porém que vive no  meio de lama, um submundo medíocre, governado por escórias. Escroques sem coração... não dão nem o mínimo de dignidade aos seus... Eu não consigo entender... quiçá eu fosse mais feliz, se fosse ignorante como a maioria que ri de sua própria desgraça. Vi no noticiário um homem que perdeu sua casa, junto com sua dignidade e demais pertences materiais alojado em uma escola pública, vítima de alagamentos ocasionados por chuvas no sul do país, comemorando  o placar de um jogo sofrido e suado de nossa seleção.  Deus que me perdoe, mas eu não vejo vantagem nisso. Eu não consigo sorrir ao analisar que trabalho meses a fio durante um ano, para pagar impostos severamente abusivos e não ver retorno do dinheiro, que deveria ser aplicado a favor das necessidades básicas de um país. Eu ainda preciso agradecer por ter um trabalho que me sustenta... mas cada dia que passa, fica mais difícil. O que está acontecendo com o mundo? Por que as pessoas se dopam com pinceladas de alegrias, quando as necessidades mais básicas estão sendo esquecidas numa tela de TV ?  Eu não entendo... A massa talvez se revolte com minhas linhas... As pessoas talvez se afastem por imaginar que a utópica seja eu. Não... não sou melhor que ninguém, nem tenho a pretensão de mudar o mundo sozinha. Mas me assusta saber que meu escrutínio não vai valer de nada ao ser apurado... provavelmente as urnas não serão secretas a ponto de mudar o panorama que observo. Hoje o dia não foi legal... Hoje eu não estou bem. Hoje me sinto triste e à margem de um quadro difícil de ser resolvido... a maioria está torcendo por alguns caras chutando uma bola... e enquanto isso,  pessoas morrem, pessoas sentem fome, pessoas vivem sem ter como viver. E o tempo não para... e amanhã o dia nasce de novo, e nada muda. Resta-me olhar essa falsa alegria estampada, e quando não mais aguentar, correr para ( meu ) local seguro, onde então observo com segurança esse cenário de pão e circo.