sábado, 12 de dezembro de 2009

Inerte amor


Não aceito o pouco que queres me dar. Não quero cacos de vidro, migalhas e restos do seu amor carregados de culpa. Não viverei guardando as sobras do teu passado. Quero vida, quero sol e desejos se realizando a cada amanhecer. Dê sua covardia a quem merece viver com meio amor, meio coração, meia vida... Não sou mulher de meios. Sou aquela que sai do ninho e vai à luta durante o dia, mas que retorna para aninhar-se em seu peito toda noite. Tens medo de quem eu sou? Não sou calma, sou intensa. E essa mesma intensidade mantém minhas chamas incandescentes, e meu calor te mantém aquecido dentro ou fora do meu corpo. Não sou silêncio, sou o grito da minha liberdade que insiste em me dizer que devo crer, fazer e ser feliz... e não fugir da guerra; se preciso for, eu vou à guerra, eu sou guerra, sempre! Não me interessa brincar de casinha, ser feliz de mentirinha, ver a felicidade através de frestas na janela. Quero a sua importância e não apenas pequenos momentos... E se preciso for, me lanço, mergulho e me estilhaço, me despedaço, me esfarelo tentando buscar minha felicidade. E não me preocupo em refazer-me, ajuntar-me... Estou vivendo, sinto na carne as escolhas dos meus dias; ainda que máculas, ainda que dor, ainda que saudade, são meus dias, minha vida. E ainda que um novo verão chegue a curar minha pele, minhas cicatrizes ainda estarão flamejantes em minha alma. Portanto, o que podes me dar é pouco. Sua capacidade de inércia deveria me afastar de ti, mas contraditoriamente me torno matéria-prima de seus sonhos. E me transmuto através de sinais, de sonhos, do olfato que ainda guardo de ti. Mas nada posso fazer. E ainda que não seja postergadora, tenho que assistir seus passos te afastando de mim.

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