quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Oswaldo Montenegro - Estrada Nova



Oswaldo Montenegro 
Estrada Nova

Eu conheço o medo de ir embora
Não saber o que fazer com a mão
Gritar pro mundo e saber
Que o mundo não presta atenção
Eu conheço o medo de ir embora
Embora não pareça, a dor vai passar
Lembra se puder
Se não der, esqueça
De algum jeito vai passar
O sol já nasceu na estrada nova
E mesmo que eu impeça, ele vai brilhar
Lembra se puder
Se não der esqueça
De algum jeito vai passar
Eu conheço o medo de ir embora
O futuro agarra a sua mão
Será que é o trem que passou
Ou passou quem fica na estação?
Eu conheço o medo de ir embora
E nada que interessa se pode guardar
Lembra se puder
Se não der esqueça
De algum jeito vai passar

Final de agosto, início de Setembro... - Walter Sieczko dos Santos


Hoje, 31 de agosto de 2017, são 219 dias desde que você foi embora deste mundo... Último dia de agosto, e prestes a começar o mês que eu mais gostava no ano,  faltariam 25 dias para o seu aniversário, meu irmão. Eu até então, amava o mês de setembro, mês de alegria, mês bonito, mês das flores, mês da primavera, seu mês! Mas agora, setembro passou a ser o mês do não-aniversário, mês da falta, mês da saudade e mais um mês de tristeza. Ainda lembro bem que no ano passado, eu estive com você - como todos os meses desde que descobrimos o câncer - estive, claro, em setembro... Como eu amava Setembros... agora, já não posso mais dizer a mesma coisa. Agradeço ao meu Anjo da Guarda, Jeffrey King, por todas as interseções junto ao Pai, para que eu estivesse junto a ti, Waltinho. Ano passado, você estava em tratamento, chegamos até pensar que as quimioterapias estavam dando certo, pois os marcadores até tinham baixado um pouco... mas perto do seu aniversário, fizemos mais um exame e vimos que os marcadores tinham voltado a aumentar. Nosso semblante, obviamente, mudou quando analisamos os resultados, estávamos sentados na mesa (foto acima), abrimos o resultado dos exames pelo notebook...  mas a gente não podia deixar a peteca cair, né Waltinho? Engolimos o choro e vivemos o que tínhamos que viver para aquele dia. Você não podia comer muita coisa... mas disse que queria comer uma tainha. Fomos no bairro Paulista, numa peixaria, e fizemos a festa. Fiz pra você, com todo o meu amor e todo meu carinho, uma super tainha assada, toda recheada de legumes, muito bem temperada...  

Fomos no carro, eu você e Luiz, conversando, contando piadas, rindo, tentando fazer daquele dia, um dia de esperança, um dia feliz porque era o dia do seu aniversário, irmãozinho, 42 anos, e eu estava decidida a fazer daquele dia, um dia muito especial. Sua mãe fez pra você um maravilhoso, saboroso e delicioso alho orgânico, fritinho, para você colocar em cima da sua comida, pra dar aquele gostinho especial. Sua mãe fez com muito carinho, ela veio para minha casa uns dias antes de eu viajar, e descascou todo o alho, ficou com os dedinhos feridos, mas fez com muito amor e carinho pra você. Lembro que tia Armida também fez uns biscoitos sem açúcar e sem gordura, e levei também um pote cheinho pra você!
Alho orgânico, fritinho, feito pela nossa mãe, especialmente para você, Waltinho!

Olha só como essa tainha assada ficou bonita, e também muito saborosa!!!! Você se esbaldou!!!! Graças a Deus, Obrigada, Senhor pela oportunidade de cozinhar e fazer comidinhas gostosas para o Waltinho!!! Comidinhas que não fizessem mal à saúde dele; alimentos sem gordura, sem óleo, sem sal, mas feito com excesso de amor, Graças a Deus! Eu tenho muito a agradecer por essa dádiva. 


Você disse que estava muito gostoso, e também falou que a tainha assada parecia um peru de natal, de tão recheado que estava. Eu sempre gostei de cozinhar, e poder cozinhar para quem se ama, é um presente divino.

Como é bom ter essas lembranças pra lembrar, meu irmãozinho, Tão amado, tão querido e tão inesquecível. Você adorava quando eu chegava em sua casa e fazia "mimida" gostosa pra você! Era reconfortante ficar olhando você comer. Esse tipo câncer é muito horroroso, restringe muito a alimentação, e os efeitos colaterais da quimio, também não são fáceis, não. Os alimentos perdem o sabor, e o doente perde a vontade de comer, porque além do enjoo e cansaço, não veem mais prazer em comer algo que não tem gosto de nada. Por isso, eu rezava tanto enquanto preparava sua comidinha. Eu pedia a interseção de Nossa Senhora, mãe de todos nós, para que Ela abençoasse aquele alimento, que eu pudesse preparar algo que fosse atrativo aos seus olhos e ao seu paladar. Graças a Deus, eu fui atendida todas as vezes que cozinhei pra você, irmão.

Tudo feito com muito amor e carinho, um cuidado especial, alimento imantado, abençoado pela Rainha dos Céus. Agradeço, agradeço e agradecerei para sempre por essa Graça! Não era o melhor dia de aniversário, e  eu tinha medo que pudesse ser o último, mas eu não podia perder as esperanças, e tampouco poderia ficar  olhando o seu dia passar, sem fazer nada... Então eu te abracei muito, te beijei muito, enchi o seu saco o dia inteirinho, dizendo pra você o quanto eu te amava. Acho que fui um excesso, até mesmo chata, mas eu precisava que você soubesse o quanto você é amado, ontem, hoje e para todo o sempre, meu irmão. 

Olha aí você colocando o alho frito feito pela nossa mãe em cima da sua salada!!!! E olha também o pratinho com as espinhas do peixe. Caracas, você sentou à mesa e comeu, viu? Ficou satisfeito e eu muito mais feliz. Eu sempre digo: cozinhar não é apenas um dom, é um ato de amor! E pela sua carinha contente, acredito que realmente você tenha gostado da comidinha que eu fiz pra você, meu irmão.
Sua irmã é chata, mas te ama com todo o coração! Um amor sem interesse, que não tem fim. Um sentimento que vem do outro lado dessa vida, uma coisa que não sei explicar, um amor que cresce a cada dia,  exponencialmente, incomensurável. Meu irmão, meu seguimento, meu fechamento, meu primeiro amigo, meu sangue, meu manequinho, meu bebê grande, vou te amar por todo o infinito. Deus te deu à nossa mãe, e nossa mãe me deu você. Obrigada Deus, Obrigada mãe.




quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Quando a gente ama - Oswaldo Montenegro

Em cada momento, são tantas memórias...

Aí então, eu paro numa cafeteria no fim da tarde, peço um café e fico olhando para as tortas diet na vitrine. Sabe o que acontece? Eu lembro mais uma vez de você, meu irmão. 

Todos os dias, toda hora, eu tenho uma lembrança sua. 

Ainda dói... mas doeria mais ainda se eu não as tivesse.

Fiquei absorta, ali olhando aquele pedaço de bolo seco, sem açúcar e lembrei do bolo que nossa mãe fazia pra você e me ensinou a fazer, para que eu fizesse novamente pra você toda vez que ia te visitar  e você comia o bolo sem açúcar, sem gordura, sem excessos, mas comia com gosto, acho que era porque tinha tanto amor naquele bolo, eu fazia com tanto carinho e tanto cuidado, eu mexia a massa rezando e pedindo que Nossa Senhora abençoasse as minhas mãos, e que meu bolo não fizesse mal à sua saúde, e que você sentisse prazer em comer um bolo fresquinho, feito com muito, muito, muuuuuito amor. Como eu sinto sua falta, Waltinho! Como dói o meu peito... dói tanto que às vezes eu nem consigo respirar. Tem dias que fico estranha, quieta, não quero saber de conversa com ninguém. É uma tristeza, meu irmão, que eu não consigo controlar. 

Quando você esteve em visita à nossa família, em novembro do ano passado, eu e sua mãe tivemos a grata oportunidade de encher você de mimo, fizemos comidinha caseira, orgânica, até galinha de quintal veio da chácara de um amigo do trabalho, fresquinha, pra te agradar... e como você comeu, Waltinho. Graças a Deus, eu tenho essas memórias para relembrar. O beijo de boa noite que eu te dava nesses dias antes de dormir, nossas preces juntos, pedindo a Deus, misericórdia. Era bom tê-lo em minha casa. Era bom eu, você, nossa mãe e Victor conversando na sala, ou à mesa, jantando, nossos amigos vindo te visitar, os vídeos gravados, as piadas, as histórias... Eu tento esquecer os momentos ruins, mas também não consigo. Mas mesmo assim, eu não jogo nada fora. Todas as lembranças são válidas e as tenho como um tesouro. Tenho dó quando me lembro que tive pena de aplicar Clexane em você, e acabei te furando 2 vezes. Me perdoa por isso. Eu titubeei e não enfiei a agulha corretamente, não tive coragem. Depois ainda tinha que aplicar insulina... ô meu irmão, que dó desse sofrimento. E você lá, quietinho, dizendo: "não tem problema, minha irmã,  eu tô acostumado,  é  isso todo dia... " Ninguém pode se acostumar com isso, Waltinho. Eu sinto muito por você ter passado por tudo que passou. Foi um martírio. Fecho meus olhos e revejo a cena. Impossível não chorar. Como eu queria te abraçar... Eu te abracei muito, mas eu ainda queria abraçar muito mais. Quantas agulhadas... quanta medicação... porque tudo isso? Eu pensei que eu fosse uma pessoa forte, mas descobri que nunca fui. Hoje, eu só peço a Deus, nosso Pai e Senhor do Universo, que você esteja livre de todo esse sofrimento, que esteja sem dor, que não viva esse sentimento de doença. Muitas vezes eu te imagino, em um jardim, dia bonito, num piquenique com nossa família espiritual, nossos amigos espirituais, comendo coisas gostosas, bolos, biscoitos, chocolates, refresco de groselha, sorvete com frutas, e depois brincando com os cachorros que tivemos na infância: Baldique, Nick, Luana, Kelly, Pepita, Vulcão e Clodine. Isso acalma meu coração. Penso em você com semblante sereno, sempre lindo e sorrindo pra mim.

Em cada momento, são tantas memórias... e eu agradeço a Deus por cada lembrança sua que tenho.

Eu te amo, meu irmão.

 Minha família, meus tesouros!!!


Agradeço a minha incumbência, Senhor!

Te agradeço, Senhor, por fazer de mim, nesse momento um instrumento de alívio para aqueles que sofrem e precisam de Ti, de Seu abraço. Obrigada, Senhor, porque me escolheste para ser esse canal de acesso ao Teu amor, proporcionando abrandamento a um coração despedaçado. Obrigada, Senhor, por confiar essa responsabilidade a mim... logo eu, ainda tão quebrantada, tão puída de dor, sofrimento e saudade. Mas Tu me mostra o quanto estás perto de mim, e o quanto ainda esperas de mim, para que em Teu Santo Nome, possa acalentar uma irmã que está passando por um momento de sofrimento. Eu sou imperfeita, mas trago em mim a crença da Tua luz divina e confio que para todos nós, cada um de nós,  Tu, Senhor, tem traçado um plano, uma missão que é dada a quem crê no amor infinito e puro de Deus. Agradeço a minha incumbência, e farei de tudo para ser  ferramenta inabalável  a trabalhar em Teu Santo nome. Dê-me as palavras certas e o abraço consolador que dará a força necessária para que meus irmãos prossigam à luta e não resvalem na fé.

Andreia Sieczko


Somos Um


Sobre a Obra de Deus

Texto retirado da internet 

O tijolo não escolhe onde ele quer ficar. Na sala, na cozinha ou no banheiro. Ele não tem a opção de escolha, e muitas vezes uns ficam na parte de baixo, na base, pra sustentar as colunas. 

Às vezes, DEUS te coloca embaixo e tu não entendes que é pra sustentar muita gente que está acima. DEUS nos coloca onde ELE quer, e pode ter certeza, onde quer que estejamos, DEUS vai nos usar. 

Somos todos tijolos na obra do nosso Deus. Se estamos em cima, no meio ou em baixo não importa. O que importa é que estamos na obra e, na "obra", tijolo é tudo igual.

Texto retirado da internet 


terça-feira, 29 de agosto de 2017

Vai vendo...


Lenine - Paciência

O que preciso para hoje...


http://vamosfalarsobreoluto.com.br/post_helping_others/o-corpo-se-expressa-atraves-da-dor/

Texto retirado da Internet
Fonte: Vamos falar sobre o luto?



QUERO AJUDAR - MINHA FAMÍLIA, UM AMIGO

O corpo se expressa através da dor
Pressão no peito, palpitações, sensações de náusea e formigamento: a tristeza do luto pode se manifestar dolorosamente através do seu corpo. Devemos prestar atenção às dores, buscar ajuda e falar sem vergonha do que estamos sentindo

 Por Cynthia de Almeida 05/01/2017

“É como se alguém tivesse se sentado em cima do meu peito”. “Começa com um aperto na garganta, desce para o estômago, parece que o coração vai explodir”. “Dor no peito, falta de ar, a garganta fecha”. “Náusea, um amortecimento nas mãos e nos braços “.

As descrições acima são de pessoas que perderam alguém querido. As dores do luto são sensações reais e podem ser passageiras ou persistentes. Segundo a Sociedade de Psicologia Britânica, como as pessoas costumam reagir de formas diferentes ao luto, ainda não há uma lista uniforme de sintomas. Estudiosos identificam, porém, alguns deles: estômago revirado, coração acelerado, tremedeira e hipersensibilidade ao barulho.


Como o grau de imunidade baixa quando se está em um período longo de estresse, perder alguém que amamos pode nos deixar vulneráveis a infecções. Um estudo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, descobriu que pessoas que viveram recentemente um quadro de luto, especialmente idosos, podem ter uma redução das funções de neutrófilos, que compõem os glóbulos brancos do sangue e ajudam no combate de doenças infecciosas como pneumonia. Os mecanismos de defesa alterados explicam, por exemplo, a morte de um cônjuge logo depois da morte do outro.

O fato de o luto não configurar uma patologia, não impede o enlutado de sentir fisicamente as suas dores. Elas existem e são dificilmente catalogadas: não são objetivas e não podem ser medidas. “O corpo se expressa através da dor”, diz a Dra Taty Logiodice, clínica geral especialista em medicina integrativa. A médica não concorda com a classificação de “dores emocionais” e “dores físicas” e explica que sejam elas provocadas por um problema físico ou emocional, são dores reais que podem ter igual intensidade. Dores no coração, relatam os estudiosos, não são mera figura de linguagem. Em pesquisas realizadas pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ficou demonstrado que a parte do cérebro que processa a dor física também processa a dor emocional.

Quem está sofrendo a perda de alguém amado costuma relatar dores na altura do peito e palpitações. Esses podem ser, segundo os médicos, sintomas de um mal chamado de “síndrome do coração partido”, ou cardiopatia de Takotsubo, decorrente, geralmente, de um forte estresse emocional ou físico. Os médicos acreditam que a síndrome seja na verdade um mecanismo de defesa do coração às descargas de adrenalina que costumam acompanhar situações de choque.

A Dra Logiodice acredita que essas dores não devem ser subestimadas e podem e devem ser tratadas tanto com medicamentos anti-depressivos convencionais, como com terapias alternativas à medicina tradicional, como reiki, arteterapia, musicoterapia ou acupuntura (única reconhecida pelo Conselho Regional de Medicinal).

As pessoas não costumam falar sobre as suas dores porque temem que sejam imaginárias. É um grande tabu: sofrem em silêncio temendo estar adoecendo de tristeza. E podem estar. A Dra Taty Logiodice descreve três níveis de adoecimento: o primeiro nível é o energético, capaz de provocar desconforto. O segundo nível é funcional, que tem conseqüentes desequilíbrios metabólicos. O terceiro é o orgânico, em que males como gastrite podem se manifestar.

Ouvir a expressão do seu corpo, reconhecer as dores e, principalmente, falar sem medo sobre elas é o primeiro e mais importante passo para deixar de senti-las.
Não tenha vergonha de pedir ajuda.

Texto retirado da Internet
Fonte: Vamos falar sobre o luto?


Deus não é cego!


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2016/06/23/nao-esquece-de-ser-feliz/

Texto retirado da Internet:

http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2016/06/23/nao-esquece-de-ser-feliz/

INSPIRAÇÃO - BELAS HISTÓRIAS

“Não esquece de ser feliz”
Perder a mãe é como ficar sem chão, sem teto e sem paredes, especialmente para uma filha única. Mas sempre será possível reconstruir a casa. E com criatividade e sabedoria – é o que nos ensina a jornalista Julia Ribeiro, que fez do seu próprio luto uma escola de vida

Por Post de autor convidado 23/06/2016
Depoimento a Laura Capanema

http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2016/06/23/nao-esquece-de-ser-feliz/

"Querida mamãe: ainda não tive filhos, não financiei um apartamento, não fiz MBA, nem doutorado e não ganhei percentual nos lucros de nenhuma empresa, nem fiquei milionária antes dos 30. Não comprei um labrador, nem uma 4×4 e nem uma TV maior. Ainda não escrevi um livro e nem plantei árvores. A coragem e liberdade plantadas por você em mim germinaram outros frutos. Decidi tirar os sonhos da gaveta e caminhar ao contrário da multidão. O lar virou mochila e o mundo inteiro agora é minha casa. Hoje vi uma estrela cadente no céu. Era você me fazendo cafuné e sussurando: ‘não esquece de ser feliz!’. A melhor notícia é: estou no caminho.

Foi com esse texto que a jornalista carioca Julia Ribeiro, 34 anos, abriu o nosso post de homenagem ao dia das mães, em que convidamos algumas filhas-órfãs a dar uma boa notícia a suas mães-estreladas. Desde então, fiquei com as palavras dela na cabeça. Não pela coragem de largar tudo e se jogar no mundo (já tem tanta gente fazendo isso…), mas pela sensibilidade em escrever um recado tão leve (e lindo!) em uma data que pode ser muito dura (para não dizer obscura) sem a força materna por perto. Além disso, uma empatia imediata nasceu ali: nós, que vivemos ou estudamos o luto, bem sacamos quando o outro compreende aquilo que eu apelidei de “insight da vida” – uma consciência mais clara da finitude, não só da existência, mas dos dias corridos. É quando decidimos, meio que repentinamente, mudar os rumos da maré, não perder mais tanto tempo com o que não importa mais tanto. Tem gente que aproveita esse sopro para escrever livro, fazer filme, lançar site (!), sair da inércia, enfrentar os medos. A Julia foi lá e fez. As malas. Ou a mochila. E enquanto roda por aí, elabora a perda da mãe, Suely, há um ano e dois meses. Pelo Skype, direto da Costa Rica, Julia falou e chorou – e me fez chorar. Se eu pudesse resumir a moral da sua história em poucas palavras, seriam elas: perder a mãe é como perder o chão, o teto e as paredes. Mas sempre será possível reconstruir essa casa com vigas e pilares mais resistentes. E o melhor: esse lar pode estar em qualquer lugar.



Depoimento:
“Eu e a minha mãe sempre moramos juntas, só nós duas. Na verdade, éramos uma maravilhosa família de três – eu, ela e o nosso gato siamês do momento (tivemos vários ao longo da vida). Sou filha única de pais separados e a mais concreta realização de uma mulher que demorou para engravidar. Quando nasci, ela já beirava os 40, o que representava, naquele início dos anos 1980, a mais perfeita vanguarda feminina do futuro. Psicanalista e psiquiatra, ela vivia intensamente.

acervo pessoal

Sua história com o câncer começou aos 50. Primeiro, o de mama, uma batalha solitária vencida na garra. Em seguida, veio o Parkinson, uma doença safada que come pelas beiradas, que começa discreta e vai preenchendo os espaços ao contrário: deixando vazio o que era cheio. A minha mãe amava trabalhar e só parou quando percebeu que trocava o nome dos pacientes. Depois, um pé quebrado que nunca se curou e, com o diagnóstico, um novo tumor decifrado. Nos ossos. Quando os médicos pararam de falar ‘cura’ para só dizer ‘qualidade de vida’, entendi que eu precisava me ajustar para ajudá-la. Morava com três amigas, mas rebobinei o filme e me mudei para a casa dela. E tudo mudou.

Montei um esquemão: enfermeiro 24 horas, psicólogo, fono, fisio. E os primeiros lutos vieram: a morte da mãe protetora, da super heroína. Depois, da minha melhor amiga, da maior conselheira. Mas não havia tempo a perder e eu precisava fazer acontecer. E Fiz. Vamos na Lagoa? No Jardim Botânico? Na varanda? Vamos abrir a janela e desligar essa TV? Foram quatro anos de uma jornada incansável de carinho, cuidado e delicadeza. Eu, que sempre fui muito desorganizada, me via obsessiva com planilhas de médicos, horários de remédios, datas de consultas, resultados de exames. Virei, de uma hora para a outra, mãe da minha mãe.

Ela foi uma doente muito saudável – palavras da própria médica – e vivia ativa, apesar das limitações, que aumentavam dolorosamente. Com o correr dos dias, fui transcendendo as angústias para trazer mais bossa para dentro casa. Literalmente: a música sempre foi um elo importante entre nós. Juntas, aprendemos que um bom disco era como uma poção mágica e que uma bela melodia tinha um poder inenarrável de ensolarar um dia nublado. Música é melhor que remédio, e passei a entendê-la como terapia depois de assistir ao documentário Alive Inside (2014), que mostra pacientes com doenças neurológicas avançadas reagindo positivamente ao ouvir as canções que marcaram suas vidas. A memória da música é muito profunda, mesmo para os cérebros mais deteriorados. E assim eu me esforçava, todo santo dia, para que ela acordasse feliz, o que pedia uma bela trilha sonora.

Aos poucos, fui elaborando a partida. Como uma boa filha de psicanalistas, nunca abandonei a terapia, passo fundamental para que eu processasse melhor as pequenas perdas diárias. Passei noites escrevendo na minha cabeça tudo o que eu queria dizer no enterro. O que não quer dizer que uma morte anunciada dói menos. A morte é sempre brutal, dolorida, incompreendida e inexplicável. É intangível. 

 Ela foi indo devagar. Um dia bambeou a perna. Depois passou a falar mais baixo. Não comeu. Aí veio a febre e, por fim, o hospital, que durou uma semana, tempo suficiente para transformar o meu sereno luto antecipado em uma dor alucinante. Era difícil demais ver ali, inconsciente, o meu maior exemplo de consciência. Mas eu ainda queria aquele final de novela, me despedir na hora certa, falar coisas bonitas. E pensava: ‘Deus, se for para levar ela mesmo, leva hoje, que é sábado e o dia tá lindo.’ Tolice a minha. Demorei para sacar que eu não tinha controle de nada. Na única tarde em que saí para me distrair, a médica ligou. Era 31 de maio de 2015.



MORRER É NASCER AO CONTRÁRIO

Como passei anos me preparando psicologicamente para aquele momento, o velório já estava todo rascunhado na cabeça. Queria algo alegre e sereno como no filme Dreams (1990), do Akira Kurosawa. Vesti uma blusa amarela, pedi flores amarelas e levei um disco do Frank Sinatra – a canção My Way, que ela amava, tocou sem parar, preenchendo os silêncios e acarinhando as almas. Como não somos religiosas, fiz da música, que era o nosso lugar de transcendência, a nossa oração.

Nos dias seguintes me vi preenchida com uma estranha paz. Os sete dias de folga do trabalho passaram quase que anestesiados, tantas eram as burocracias para resolver. Mas depois… ah, depois. Força? Força eu tive para brigar enquanto a minha mãe viveu. Depois que ela descansou, desabei. Foi aí que me dei conta que a dor vem com a certeza da ausência. O estalo entre o existir e o não existir é inexplicável. Passamos a vida toda sem aceitar nossa finitude. Estamos tão desconectados da natureza que nos esquecemos do ciclo natural das coisas. Vivemos cercados de máquinas e nos achamos invencíveis. E não somos.

Ela não tinha ido viajar, o telefone não ia tocar, ela não estaria mais em nenhum lugar. A ficha cai. Todos ao redor parecem invisíveis. Você fica míope, fraca e até egoísta. Engorda, se fecha para o mundo. Mas é importante ressaltar: amigos, não desistam de nós! Nessa fase é preciso ter redes de apoio muito sólidas para não enlouquecer, para não se perder.

‘Vai passar, já já melhora’ são coisas muito duras de ouvir. A tristeza não precisa passar rápido. E nem acho que deve – a gente só sublima a morte depois de viver a dor na sua integralidade. Eu decidi deixar ela transbordar. O Rio de Janeiro inteiro indo beber no Baixo Gávea e eu lá, devastada. O que eu ia fazer na rua? As pessoas estavam felizes, mas eu não. E encontrei o meu maior conforto na ficção. Vi muitos e muitos filmes. Me apeguei aos longas mais trágicos, às histórias mais tristes do mundo. Foram noites e noites estirada no sofá, sozinha. Me identificava com aquela dor ficcional, como se só aqueles personagens pudessem me entender. Eu queria ver até onde doía. Queria ver se as lágrimas iam acabar.

Não acabaram. Mas depois de meses debaixo do cobertor, resolvi me cercar de ioga, terapia e homeopatia. E meio que sem perceber, a alegria discretamente começou a voltar, a encontrar o seu lugar no escuro. Porém, ainda foi preciso aprender a lidar com a culpa de começar a ver o mundo mais colorido.



EU LUTO COM O VERBO NO PRESENTE
Seis meses depois, o vazio da rotina foi sendo preenchido por pequenos rituais. E o luto virou luta. A luta de manter a presença possível na ausência irremediável. A luta para espalhar a generosidade, a empatia e o amor, as maiores heranças que eu recebi. Cada prato de bolo, cada caixa de costura, cada porta-retrato foi doado, assim como os livros de antropologia e psicanálise, seus maiores tesouros. Porém, antes de doá-los, fui relendo um por um, com as marcações dela. Preenchi muitos buracos nesse processo. Foi quando entendi que a memória era uma bela forma de existir. E quanto mais a pessoa existe, menos dói a ausência.

A morte é bruta e delicada ao mesmo tempo. E encará-la de frente – sem mascarar a dor – pode trazer muita vontade de viver. Compreender o que é perder nos dá automaticamente muita vontade de ganhar. Ganhar a chance de viver bem, de ser alegre todo dia. De repente, o presente era uma lacuna e a vida passava a ser muito importante para eu viver só esperando o fim de semana, o feriado, as férias. Comecei a ter aflição de passar o dia migrando da tela do celular para a tela do computador. Pensei na minha mãe que trabalhou anos esperando se aposentar para, enfim… viver a vida. E putz, deu errado. Somos escravos dos nossos gastos e estamos cada vez mais presos. Presos nas parcelas das coisas novas, nas prestações da casa, em modelos de trabalho sem flexibilidade e com uma rigidez sufocante. A gente vai ficando cinza e não percebe.

Não dava mais para esperar me aposentar. Sei lá se vou viver até lá, sabe? E foi aí que resolvemos mudar, eu e o meu marido, o rumo das nossas vidas. No dia 4 de abril, começamos uma jornada pelo mundo. Não queremos só viajar, mas também trabalhar, descobrir em outros países novas formas de existir e de se relacionar. Não é clichê: a felicidade mora nos detalhes. Dia bonito, suco bom, pássaro diferente que pousa ali na sua frente.

É muito real essa história de que a pessoa que já se foi pode morar dentro de nós. Mesmo longe do Brasil, distante de todas as referências dela, tenho esse conforto de saber que ela está em mim. Na verdade, nunca estivemos tão próximas. Eu não sei se eu sou feliz, mas estou desesperadamente tentando ser. E é nessa busca que vou me achar. É valorizando a vida, que é muito preciosa para a gente só ver passar."

Texto retirado da Internet:

http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2016/06/23/nao-esquece-de-ser-feliz/

http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2017/05/18/na-india-encontro-inesperado-inspira-reflexoes-sobre-o-luto/

Vamos Falar sobre o Luto?

Texto retirado da Internet:

http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2017/05/18/na-india-encontro-inesperado-inspira-reflexoes-sobre-o-luto/

“Dependendo da dimensão do tremor, tudo desaba. Isso independe de você estar preparado ou não para a perda. Estar preparado é muito relativo. Então, às vezes, você está esperando um ente querido ir embora e quando ele vai, provoca um impacto tão profundo dentro de você que você não sabe como lidar. O chão desaparece. Tem pessoas que são como um chão para você. Tem pessoas que são como uma casa para você; te dão segurança, você se sente protegido pelo fato daquela pessoa estar viva e quando ela vai, você experimenta uma fragilidade, uma vulnerabilidade que até então não conhecia”, disse ele.

Prem Baba complementa dizendo que mesmo quando a morte é esperada, ninguém sabe como é viver sem a pessoa. Tudo é novidade. E quando acontece na forma de acidente, a tragédia e o impacto são ainda maiores. Ele destaca ainda que a desordem criada no corpo emocional gera consequências que não conseguimos nem dimensionar. “Às vezes desregula seu sistema nervoso, sistema endócrino e abala órgãos específicos. Baixa sua imunidade tremendamente e você fica vulnerável a vírus, bactérias e parasitas que talvez tenham se instalado no momento que você se fragilizou. Você precisa de um médico que te olhe mais profundamente (…) quando você recebe o suporte adequado e tem a chance de aliviar o sofrimento físico, você se abre pra cuidar da desordem mental ”, sugere.

Em determinado momento, Prem Baba leu  o relato inquieto de um homem que, após perder o pai, tio e primo ao mesmo tempo, começou a ter dores nas costas e problemas digestivos. Se sentia exausto e sem energia no trabalho. “A perda de um ente querido provoca impactos de dimensões muitas vezes incalculáveis. Difícil mensurar o que a perda provocou no sistema. Quanto maior o vínculo afetivo, maior o impacto. Muitas vezes abrem-se fendas no corpo emocional e isso consequentemente desestrutura os esquemas do corpo mental. A pessoa entra em desordem psico-emocional que obviamente afeta o corpo energético, que por sua vez pode afetar o físico. Dependendo da área do corpo emocional que a fenda foi aberta”, pondera.

O guru-psicólogo destaca que quando não elaboramos bem uma perda, os sentimentos suprimidos podem causar imenso desequilíbrio. Mas ele dá um caminho. A porta de entrada para o inconsciente pode ser o corpo: “Existem perdas que dão mais trabalho para elaborar. É bem provável que você tenha que lidar com sentimentos suprimidos. Na hora do impacto você empurra os sentimentos para o porão do inconsciente e tranca. E isso é que acaba sustentando, de certa forma, os sintomas. Um outro caminho para a cura é ir direto nesses núcleos. Às vezes precisamos provocar essa descida nos porões dos sentimentos negados. E quando eles estão bem trancados é preciso de um esforço extra para quebrar o cadeado. Utilizamos técnicas de respiração, às vezes algumas práticas corporais ajudam a soltar.”

Por experiência própria, para elaborar perdas é preciso coragem. E tempo. Não tenha pressa. É preciso deixar a rotina retomar seu fluxo e as emoções decantarem. Pode levar meses ou anos. A meditação budista, por exemplo, tem me ajudado muito. É uma jornada diária de auto-conhecimento rumo à consciência plena. Para quem quiser se aventurar pelo universo da meditação recomendo o livro “10% mais feliz: como aprendi a silenciar a mente, reduzi o estresse e encontrei o caminho da felicidade”, de Dan Harris.

A nossa tendência é fugir do incômodo, não falar sobre ele, nem pensar nele, fingir que está tudo bem. Mas quando aprendemos a observar as artimanhas da mente, podemos aprender até com o sofrimento e, assim, seguir em frente mais fortes, mais otimistas e mais conscientes da  impermanência das coisas.



Julia Ribeiro tem 35 anos, é jornalista, carioca, filha da Sueli e desde o início de 2016 está viajando o mundo com seu marido

Agosto de 2015

Lembranças de Agosto de 2015


Waltinho, o facebook me mandou essas lembranças de agosto de 2015. Ai, meu irmão... quanta saudade. Você tinha acabado de sair da 2ª pancreatite (jun/15), eu estava viajando comemorando 2 anos de casada, quando teve um rebuliço na sua vida e você me ligou pedindo pra vir para o Rio de Janeiro. Terminei minha comemoração mais cedo, e vim pra casa, entrei na internet e comprei sua passagem. E fui te buscar no aeroporto, tão abatido, apenas com uma pequena bagagem e uma garrafa de água mineral debaixo do braço, com um rostinho tristinho, mas você sabia que teria aqui meu amor e meu apoio, porque você é meu irmão, meu amado irmãozinho que pra mim é perfeito, meus irmãos são os melhores irmãos desse mundo pra mim, e por vocês, eu faço tudo que tiver ao meu alcance. Levei você pra casa, desfiz sua mala, fiz uma comidinha pra você, porque você estava faminto. Chamei nosso caçula Victor Hugo, e ele veio rapidamente com Beth e Biel. Ah, meu irmão, se o tempo pudesse voltar, eu não teria deixado você voltar novamente, imploraria para que você ficasse em minha casa. 

Como eu gosto de fazer comidinhas pra vocês. Vocês são a melhor parte de mim. Eu agradeço todos os dias por minha mãe, Nina, ter me dado você de presente, Waltinho. Meu irmãozinho, meu manequinho, meu primeiro amigo. E também agradeço muito por ter o Victor Hugo como nosso irmão. Se nosso pai fez alguma coisa de bom na vida dele, foi ter feito nós 3. Uma pena que Cancão não soube aproveitar os tesouros que fez.

Família é o melhor lugar do mundo, Waltinho. E família nenhuma é perfeita, e nem precisa ser, para ser e continuar sendo família. Dessa forma, seu início, seu ponto de partida, sua família primeira, seu berço, é aqui, ó!!! No meu coração, no coração da sua mãe, das suas tias que te amam também, do Victor Hugo, PQD bizonho, que sofreu demais, feito criança quando descobrimos que você já tinha partido há algumas horas e nem sabíamos... Não fomos avisados. Mas o amor que sentimos, é intrínseco e real, moral e infinito, não aceitamos essa falta de consideração. Você é amado, e sempre será amado por nossa família e nossos amigos. Você está vivo em meus pensamentos, e eu acredito que você vive em outro lugar, melhor do que aqui. Amamos você, Waltinho... Todos os dias, toda hora, a cada minuto, recebe o meu amor, meu carinho, meu apoio, meu abraço quentinho. Nossa Mãe do Céu te cubra com seu manto azul de amor, assim como Ela manda forças para todos nós. Toda mãe tem um pouco de Nossa Senhora correndo nas veias. Eu não sou mãe, mas sou sua irmã, sua única irmã, que sempre te amou e que vai te amar por toda a eternidade. Amamos você, Waltinho!!!!!

domingo, 27 de agosto de 2017

Ele nunca perdeu a fé - Walter Sieczko dos Santos

Meu irmão, meu amado irmãozinho, Walter Sieczko dos Santos, hoje eu lembrei do terço abençoado de São Bento, que foi um presente do meu amigo Josué para você. Especialmente para você, meu irmão! Meus amigos de fé, amigos que terei por toda a minha vida, são os amigos que me ampararam e que continuam até hoje cuidado de nós, cuidando de mim, da nossa mãe e de você também. Josué um belo dia me disse que tinha um presente pra você, e me deu então esse terço lindo, que eu levei e coloquei em suas mãos. Este que você segura aí em cima, nesta foto. Muita saudade, Waltinho. Mas eu sei que você está sendo cuidado, acolhido com muito amor por Nossa Senhora e por nossa família espiritual. Graças a Deus, meu irmão, rezamos bastante juntos. Agradeço a todo momento por essa graça! Você é um menino bom, Waltinho, não perdeu a sua fé. Tantas e tantas vezes eu resvalava, me questionava, mas você trazia dentro de si, uma fé ímpar. Por isso eu tenho a certeza que você está num lugar melhor do que estava aqui. Ai, meu irmão... eu sinto muita saudade sua. Mas o laço de amor que nos une, é muito maior que toda a saudade que eu sinto. Vamos aqui levando a vida, dia após dia, acreditando que a minha missão e a de sua mãe, ainda se faz uma longa jornada por aqui.

Te amamos muito, Waltinho. 

sábado, 26 de agosto de 2017

214 dias sem o meu irmão - Walter Sieczko dos Santos - 26/agosto/17

Oi irmãozinho!!!!

Hoje completa 214 dias desde que você se foi, e 216 dias desde nosso último abraço, nossa última oração juntos, nossa última despedida neste mundo. Há 7 meses, a vida tem uma motivação bem diferente do que eu tive ao longo de 45 anos. Há 7 meses, ou 216 dias, um divisor de águas cortou minha maneira de viver e de pensar. Hoje, Waltinho, eu sou uma irmã órfã.
Uma irmã que sente falta de um pedaço da vida, um pedaço grande do coração, eu sou  a metade de um sonho de padaria. Trago comigo as lembranças do que vivemos, e a frustração de não ter você em minha vida daqui pra frente, na minha velhice, no que deveria ser a nossa velhice. Sempre imaginei que por ser a irmã mais velha, você fosse cuidar de mim, que você fosse fechar os meus olhos quando eu não mais os abrisse pra vida. Sempre me senti confortável com essa possibilidade, porque não tenho filhos... e você era quem poderia olhar por mim num momento de adeus. Meu irmãozinho, meu manequinho, meu Bebezinho, meu sangue, a continuidade dos nossos pais e de mim.
Eu não terei novas histórias, nem novas lembranças pra recordar... tudo o que vivemos, já vivemos, e hoje conto apenas com a minha memória para nos mantermos eternos nessa vida. Por isso eu escrevo. Por isso essa terapia de luto, registrar toda e qualquer lembrança de fatos, festas, atos, brigas, brincadeiras, todo cotidiano que vivenciamos durante o tempo que estivemos compartilhando os nossos dias. Saudade me define, Waltinho. A terapia ajuda, remedinho, ajuda, mas nada é suficiente na hora que a saudade aperta o coração e oprime a garganta. Sufoco meu grito. Porque assim me sinto, com muita vontade de gritar de dor e saudade, mas isso não seria considerado normal por 90% das pessoas... aliás, só entende essa dor, quem passa por ela comigo. Quem nunca amou, quem nunca perdeu alguém a quem amava de verdade, não faz idéia de como é sobreviver a isso. Perdi muitos amigos... amigos? Putz... o sofrimento mostra quem são nossos verdadeiros amigos, mas enfim, nunca é tarde pra fazer aquela limpeza que a adversidade nos ensina a fazer. Muita gente saiu da minha vida... não sou mais a mesma pessoa alegrinha que fazia galhofa até de topada em areia. Mas em compensação, descobri verdadeiros amigos em pessoas que eram apenas conhecidas, amigos que provaram ser amigos e novos amigos que Deus nos manda nessas horas difíceis. Mas mesmo assim, nem tudo isso ameniza a dor dessa saudade. Sinto sua falta, Walter Sieczko dos Santos. Não acredito que não possas me  telefonar, que eu não posso passar um whatsapp pra você... Claro que te tenho aqui, Ó (no meu coração), claro que me conecto contigo durante o sono, claro que você está vivinho da silva no meu pensamento, claro que você reza comigo todas as nossas horas do dia, claro que lembro da tua voz.... claro, claro, claaaaro que sim... Mas é que às vezes eu sinto que tudo isso ainda não é o suficiente para que a minha vida volte a ser como era antes. Fico imaginando como será possível viver ainda o que tenho pra viver com toda essa falta que você me faz.


Eu só quero que continue recebendo o meu amor, minha energia, o Reiki que emano todos os dias pra você, meu carinho, a comunhão que divido contigo nas missas, as músicas que eu canto pra você, todas as orações, todos os pensamentos positivos que coloco na cestinha de recados do Jeffrey, e ele entrega à você. Você é um bom menino, e sei que está amparado por Nossa Senhora, e que nossa família espiritual está cuidando de você. Eu tenho muita certeza disso, Waltinho. Essa certeza é o que me sustenta, tanto a mim quanto nossa mãe. Tem dias que não conseguimos respirar, mas nessas horas a gente se liga, se fala, se abraça e aí sentimos sua presença mais viva dentro de nós. Quando estamos então, Victor, nossa mãe e eu... parece que você está então sendo abraçado e dentro de nós (literalmente). E assim, juntos, vamos levando a vida.

Amamos você! E nem 7 meses, nem mesmo 7.000 anos pode mudar esse sentimento.

Recebe nosso abraço: Andreia, mamãe Nina e Victor.


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Salmo 94 - A Justiça de Deus

“Ó Senhor Deus, a quem a vingança pertence, ó Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente. Exalta-te, tu, que és juiz da terra; dá a paga aos soberbos. Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios saltarão de prazer?

Até quando proferirão, e falarão coisas duras, e se gloriarão todos os que praticam a iniquidade? Reduzem a pedaços o teu povo, ó Senhor, e afligem a tua herança. Matam a viúva e o estrangeiro, e ao órfão tiram a vida. Contudo dizem: O Senhor não o verá; nem para isso atenderá o Deus de Jacó.

Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios? Aquele que fez o ouvido não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? Aquele que argui os gentios não castigará? E o que ensina ao homem o conhecimento, não saberá? O Senhor conhece os pensamentos do homem, que são vaidade.

Bem-aventurado é o homem a quem tu castigas, ó Senhor, e a quem ensinas a tua lei; Para lhe dares descanso dos dias maus, até que se abra a cova para o ímpio. Pois o Senhor não rejeitará o seu povo, nem desamparará a sua herança.

Mas o juízo voltará à retidão, e segui-lo-ão todos os retos de coração. Quem será por mim contra os malfeitores? Quem se porá por mim contra os que praticam a iniquidade? Se o Senhor não tivera ido em meu auxílio, a minha alma quase que teria ficado no silêncio.

Quando eu disse: O meu pé vacila; a tua benignidade, Senhor, me susteve. Na multidão dos meus pensamentos dentro de mim, as tuas consolações recrearam a minha alma. Porventura o trono de iniquidade te acompanha, o qual forja o mal por uma lei?

Eles se ajuntam contra a alma do justo, e condenam o sangue inocente. Mas o Senhor é a minha defesa; e o meu Deus é a rocha do meu refúgio. E trará sobre eles a sua própria iniquidade; e os destruirá na sua própria malícia; o Senhor nosso Deus os destruirá.”


quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Colherás o teu plantio


Não... não é apenas lidar com a morte, não é apenas conviver com a perda, com um buraco enorme e sem fundo, no meio do peito. Um buraco transfixado que sangra, que vai sangrar sem cessar, transbordando dor, luta, desespero, impotência... sem que nunca se encontre um paliativo para essa chaga. Não é apenas saber conviver com a ausência, é ter que sobreviver com uma parte grande que foi arrancada de ti, de maneira sórdida e cruel, por alguém que te sorri mansamente enquanto te apunhala as costas e te rasga ao meio. 

Me diz, então, como prosseguir caminhada? Como seguir adiante, viver a vida, quando abalroada por uma notícia de morte, que não teve o direito de saber, descer ao inferno tentando dar um impulso para enxergar a realidade. Deu merda! Não era pra ser assim, a ninguém foi dado o direito de decidir de quem é o merecimento, quem pode ou quem não pode ter o conhecimento de uma partida tão triste, um adeus ausente. 

Não... eu sinto muito, mas não consigo esquecer e seguir em frente. Foi uma vida toda, uma história inteira, com início e meio, mas pra sempre sem fim. Um caos instaurado em nome do egoísmo, orgulho e sentimento de posse. Somente pelo ato em si, passível de condenação ao tártaro tormentoso onde deve pagar a empáfia magistral que até agora demonstrou nesta vida... tão soberba, tão arrogante... Agora, creio que comece o seu fim, observando adjacente, o perecimento decadente, de quem sempre se percebeu inatingível  a colheita dos frutos que plantastes.



O caminho de volta - Teta Barbosa - Texto retirado da Internet

Texto retirado da Internet

O caminho de volta...  
Texto de Teta Barbosa - jornalista, publicitária 

"Já estou voltando. Só tenho 45 anos e já estou fazendo o caminho de volta. Até o ano passado eu ainda estava indo... Indo morar no apartamento mais alto, do prédio mais alto, do bairro mais nobre.  Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras.  Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe!  Mas, com quase cinquenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo?  No que ninguém conseguiu responder. Eu imaginei que quando chegasse lá, ia ter uma placa com a palavra "fim".  Antes dela, avistei a placa de "retorno" e, nela mesmo, dei meia volta.  Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo).  É longe que só a gota serena! Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo.  E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana?  E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). Por aqui, quando chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo), abre um livro e, pasmem, lê.  E no que alguém diz: "a internet voltou!", já é tarde demais, porque o livro já está melhor que o Facebook, o Instagram e o Snapchat juntos. Aqui se chama "aldeia" e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama.  No São João, assamos milho na fogueira. Aos domingos, converso com os vizinhos. Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar... Aí eu me lembro da placa "retorno", e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: "retorno – última chance de você salvar sua vida!"  Você, provavelmente, ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: "Compre um e leve dois".  Nós, da banda de cá, esperamos sua visita.  Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta..."

CUIDE DO SEU TEMPO, CUIDE DA SUA FAMÍLIA.


O Anjo Mais Velho

O Anjo Mais Velho

“O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente”

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia o verbo a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto… depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar..

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minha alma d’aquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia o verbo a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto… depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar..

Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia o verbo a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto… depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar...

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Incoerência Brasileira


Inteligência Espiritual

Texto retirado da internet:  http://exame.abril.com.br/revista-exame/deus-e-negocios-m0052782/

QS
No início do século 20, o QI era a medida definitiva da inteligência humana. Só em meados da década de 90, a "descoberta da inteligência emocional mostrou que não bastava o sujeito ser um gênio se não soubesse lidar com as emoções."

A ciência começa o novo milênio com descobertas que apontam para um terceiro quociente, o da inteligência espiritual. Ela nos ajudaria a lidar com questões essenciais e pode ser a chave para uma nova era no mundo dos negócios.

Drª Dana Zohar, da Universiade de Oxford no seu livro QS - Inteligência Espiritual, lançado no ano passado, a física e filósofa americana aborda um tema tão novo quanto polêmico: a existência de um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas, torna-as mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida.

Ela baseia seu trabalho sobre Quociente Espiritual (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas de cientistas de várias partes do mundo que descobriram o que está sendo chamado "Ponto de Deus" no cérebro, uma área que seria responsável pelas experiências
espirituais das pessoas.

O assunto é tão atual que foi abordado em recentes reportagens de capa pelas revistas americanas Neewsweek e Fortune.

Afirma Dana:

"A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual".

Aos 57 anos, Dana vive na Inglaterra com o marido, o psiquiatra Ian Marshall, co-autor do livro, e com dois filhos adolescentes. Formada em física pela Universidade de Harvard, com pós-graduação no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), ela atualmente leciona na universidade inglesa de Oxford. É autora de outros oito livros, entre eles, O Ser Quântico e A Sociedade Quântica, já traduzidos para português.

O que é inteligência espiritual?
É uma terceira inteligência, que coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efetivos.
Ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal.
O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos.
É uma inteligência que nos impulsiona.
É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor.
O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida.
É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.*

De que modo essas pesquisas confirmam suas ideias sobre a terceira
inteligência?

Os cientistas descobriram que temos um "Ponto de Deus" no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. É uma área ligada à experiência espiritual. Tudo que influencia a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neurais. Um tipo de organização neural permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou inteligência intelectual. Outro tipo permite realizar o pensamento associativo, afectado por hábitos, reconhecedor de padrões. Emotivo é o responsável pelo QE, ou inteligência emocional. Um terceiro tipo permite o pensamento criativo, capaz de insights, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formulam e se transformam os tipos anteriores de pensamentos. Esse tipo lhe dá o QS, ou inteligência espiritual.

Qual a diferença entre QE e QS?
É o poder transformador. A inteligência emocional me permite julgar em que situação eu me encontro e me comportar apropriadamente dentro dos limites da situação.

A inteligência espiritual me permite perguntar se quero estar nessa situação particular.
Implica trabalhar com os limites da situação.
Daniel Goleman, o teórico do Quociente Emocional, fala das emoções.
Inteligência espiritual fala da alma.
O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para mim, e não apenas como as coisas afectam minha emoção e como eu reajo a isso.
A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade.

Dana Zohar identificou dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes. Segundo ela, essas pessoas:

1. Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo.

2. São levadas por valores. São idealistas.

3. Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade.

4. São holísticas.

5. Celebram a diversidade.

6. Têm independência.

7. Perguntam sempre "por quê?"

8. Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo.

9. Têm espontaneidade.

10.Têm compaixão.

"Uma vela não perde a sua chama acendendo outra."


Deus é justo!


terça-feira, 22 de agosto de 2017

Cema, minha Iracema

Eu ainda deveria estar na barriga da minha mãe, enquanto ela já ajudava as pessoas ao seu redor. Foi uma mulher à frente de seu tempo. Sei que trabalhava fora, era independente e tinha um noivo militar, que morreu jovem, à serviço da Pátria, deixando-a uma noiva, virgem, e assim se manteve até o fim de sua jornada nesta vida. Iracema Magalhães da Cunha, a primeira pessoa "espírita" que eu conheci na vida. Lembro bem disso, porque a palavra "espírita" sempre me causou curiosidade, sem ter noção do que era o significado da palavra. Com o passar dos anos, às vezes essa palavra me causava medo, porque eu comparava à palavra "fantasma", o que  tinha um 
sentido deturpado sobre o que é o espiritismo. Cema sempre foi uma pessoa maravilhosa, sempre pronta a ajudar e com certeza, é um espírito de luz e amor. Há alguns anos eu venho pensando muito na Cema... sempre me recordo dela com muito carinho e imagino que desde o céu, ela está olhando por todos os que ela amava muito aqui nessa terra. Sempre que pensava em desencarne, idealizava a Iracema com aquele semblante sereno, calmo... com seus cabelos brancos penteados pra trás, os grandes brincos de pressão, em formato de pérola, e o vestido azul marinho com flores miúdas estampadas. Afigura-se para mim já com certa idade, mas com o mesmo vigor de uma pessoa jovem. Afinal, já a conheci nesta vida em idade madura... Mãe adotiva da amiga falecida Eliane e mãe do coração de tantas outras pessoas que ela dava morada em sua casa. Tinha também dona Laura, uma senhorinha que vivia com ela no mesmo apartamento da Rua do Lavradio, 106, apartamento 315. Iracema sempre foi uma pessoa caridosa. Saía de casa e descia e subia as escadas caracóis porque o elevador quase sempre estava com defeito... e ia no supermercado Casas da Banha, ali na Praça João Pessoa para comprar algum item para as senhorinhas que eram nossas vizinhas. Estava sempre pronta para ajudar. Trabalhava em casa como costureira, e fez os vestidos mais bonitos das minhas lembranças de infância. Ela era uma especialista em vestidos de noiva, e acho que ela não cobrava pela mão de obra... não tenho certeza, era muito pequena, mas sempre ouvi que ela não cobrava por costurar vestidos de noiva. Como eu disse, ela era noiva e nunca se casou... mas tinha um coração de mãe, uma bondade única e eu ficava encantada quando via as fotografias dos vestidos de noiva que ela costurava. Na sala da casa dela, tinha um poster enorme com minha fotografia quando eu tinha 1 ano. Depois que a Cema desencarnou, a irmã dela nos devolveu o antigo poster e ainda o tenho até hoje. Tinha uma grande mesa na sala, um móvel enorme no canto, e eu criança, ficava mexendo no telefone de disco dela, que era bem antigo. A casa tinha cheiro de fumo de rolo, que a dona Laura ficava mastigando. Lembro do sol entrando pela janela sem cortinas, uma pilha de livros, jornais e revistas de corte e costura. Lembro de ir para a casa dela, descalça pelos corredores de cera vermelha, até mesmo antes de andar, ia engatinhando... Alguma vez eu e Waltinho devemos ter ficado com ela para nossa mãe sair rapidamente. Lembro da Cema em todos os meus aniversários, sempre, ano após ano que eu vivi ali. Minha mãe conta uma história que um dia, eu deveria ter 3 ou 4 anos, e era meu aniversário... mas seria apenas um bolinho com ki-suco, nada demais... Porém, eu peguei meu velocípede amarelo, e fui de porta em porta dos apartamentos do 3º andar, subia no velocípede e tocava a campainha das portas vizinhas... todos no prédio da Lavradio me conheciam - meu pai nascera ali - e então eu fui convidando a todos os vizinhos, um a um... e dizia que naquele dia, era meu aniversário e que minha mãe faria um festa! No final da tarde, o povo ia chegando, a Cema com certeza, deve ter sido a primeira a chegar, com cheirinho de alfazema, brincos de pressão em formato de pérola, cordão igualmente de pérola, e com um de seus vestidos de cetim macio, de fundo escuro e com alguma estampa de florzinhas. E assim, desta forma tão pueril, eu fiquei alegre e satisfeita com meus convidados chegando e minha mãe já no desespero de fazer mais ki-suco de morango e servir as fatias do bolo caseiro. Tudo era excepcionalmente, uma festa... ninguém se importava com a celebração módica... para Cema e nossas vizinhas, era um evento e tanto participar da minha comemoração. Era uma oportunidade de colocar o assunto em dia e eu era muito mimada por todos. Assim eu cresci, amando a Cema, nossa vizinha, nossa amiga e com certeza, um Anjo da Guarda que tenho no céu. Em janeiro deste ano, quando minha mãe chegou ao hospital para ficar com o Waltinho e tirou da bolsa aquela oração, presente da Cema, com a sua letra linda escrita... ali eu tive a certeza que não estávamos sozinhas, que Deus reservou Anjos para que pudéssemos acreditar que a vida nunca acaba, que a morte é apenas uma passagem, um retorno para a vida verdadeira. Foi um grande conforto, ter aquele papel antigo, amarelado, com mais de 20 anos, plastificado com todo amor e carinho, para que continuasse sendo esse presente precioso de conforto e luz que ela nos deixou. Eu já tinha vontade de escrever sobre a Cema já há muito tempo... e relembrei isso em janeiro, enquanto estávamos no hospital cuidando do Waltinho. Então, eu acredito que Cema estava entre nossa família espiritual na passagem do meu irmãozinho. Esse sentimento conforta meu coração. Penso nos meus avós, penso em Nossa Senhora, que escolheu a hora sagrada dela, 18:00h, para recebê-lo e aconchegá-lo em seu manto azul de amor. Eu sinto essa paz, eu sinto esse amor. Eu tenho muita saudades do Waltinho, mas eu tenho fé que ele está bem e acarinhado pela Cema e tantos outros amigos e familiares.




E assim, desta mesma forma, eu sempre imagino que ela, como espírito de luz, que sempre ajudou seu semelhante, estará do outro lado da vida, sendo um dos rostos amigos que estarão lá, para me receber, quando chegar minha hora. Iracema deixou algumas outras coisas escritas para minha mãe, e além disso, deixou ensinamentos ímpares de como um ser humano deve ser e se comportar diante das vicissitudes da vida. 

Há muito tempo atrás, quando eu pensava na morte, a Iracema, minha Cema, vinha sempre à minha mente. Mesmo antes do Waltinho descobrir o câncer, anos atrás, quando eu imaginava como era ser passar para o lado de lá, a Cema vinha na minha cabeça. 

Eu agredeço muito à Cema. E peço que Jesus permita que ela me receba, junto com meu irmão e minha família espiritual no dia que eu não mais abrir os olhos nesta experiência de vida.  Sou grata pelo amor que a Cema sempre nos ofereceu, sem nunca pedir nada em troca. Te amo, Iracema. Você foi um personagem muito importante na minha infância e juventude. Presente em todos os meus aniversários, todos os meus dias, vizinha de porta, guardiã espiritual da minha vida.




Oração da manhã

Bom dia, Senhor!

No silêncio deste dia que amanhece,
Venho pedir-te a Paz, a Sabedoria, a Força.
Quero ver hoje o mundo com os olhos cheios de amor.
Ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
Ver além das aparências teus filhos,
Como tu mesmo os vês,
E assim, não ver senão o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda calúnia.
Guarda minha língua de toda a maldade.
Que só de bênçãos se encha meu espírito.
Que eu seja tão bondoso e alegre,
Que todos quantos se achegarem a mim,
Sintam sua presença.
Reveste-me de tua beleza, Senhor,
E que , no decurso deste dia,
"Eu Te Revele a Todos."



Esta oração, nesta foto, está na cama do hospital onde se encontrava meu amado irmão Walter Sieczko dos Santos. E ali, fizemos essa oração e por muitas vezes, pedi o conforto espiritual para nós, naqueles momentos. Minha mãe  guarda essa oração com muito carinho, uma jóia preciosa, com valor inestimável.

Agradeço a Deus, pela oportunidade que tive, de estar junto com meu irmão e nossa mãe naqueles dias.

Agradeço a Jesus, e a Mãe Maria, agradeço à Cema e a todos os espíritos de luz que nos ampararam.

Eu creio que meu irmão esteja acolhido no amor supremo do Universo.

Obrigada, Iracema.

Andreia Sieczko