quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Perdoe-me por pensar que o poder da vida está em minhas mãos.

Minhas dúvidas são tão pequenas diante da grandiosidade dos Teus atos. Então, não sei porquê me torturo com tantos questionamentos. Essas incógnitas que são torturantes para mim, já estão decifradas em Teu plano. Por que minha ansiedade se mostra mais eficaz que minha fé? Se é a fé que guardo em meu peito que me mantém viva? por que meus anseios tomam proporções tão maiores em  meu viver? E o que eu quero, Senhor, nem sempre é o que Tu tens reservado para mim. Nessas horas, em que a lucidez prova a Tua existência, eu me envergonho diante dos meus atos, diante das vontades vãs e repentinas que permeiam minha mente. Somente Tu, Senhor, sabe o que virá no dia de amanhã... somente a Ti cabe mostrar quais dias em mereço o sol... e quais dias vou precisar passar pela chuva. Me perdoe, meu Pai, por querer antever o amanhã. Perdoe-me por pensar que o poder da vida está em minhas mãos. Nem mesmo a minha vida me pertence, pois eu pertenço a Ti, Senhor, e a cada momento, devo me recordar disso. Eu só existo, porque Tu, meu Deus e meu Senhor,  ainda tem planos para minha jornada. E em Ti em confio, Pai. Em Ti eu confio, pois nada que me acontece, chega sem o Teu consentimento. 

Em Ti, eu confio, Pai!



domingo, 20 de dezembro de 2020

Em que espelho ficou perdida a minha face... Cecília Meireles

 "...Em que espelho ficou perdida a minha face... "


Às vezes acordo triste e nem sei o porquê dessa tristeza. Uma angústia,  um descontentamento,  uma solidão interior...

Muitas vezes vem uma vontade de chorar, uma fragilidade que nada parece estar bom...

Nós ,que já passamos dos 50, muitas vezes nos encontramos assim. O mundo inteiro caminha normalmente, tudo está bem e vem essa tristeza.

Quantas vezes eu me olhei no espelho e me curti, me achei linda e sai dona do mundo esbanjando mocidade e vendendo alegria?

Quantas vezes fui elogiada, fotografada por olhares cheios de admiração? 

E no espelho desfilei caras e bocas...Com a beleza que aos poucos foi se modificando, foi mudando de fases, foi se perdendo e dando lugar a  um outro tipo de mulher: a mulher madura, aquela que muitas vezes ouve como elogio: você está conservada. 

Que triste elogio! Diga como vc está bonita, que linda vc  está. ..soa melhor, engrandece a alma, que hoje já tem tantas cicatrizes. 

Beleza está em todas as idades, conversem com seu espelho e descubra o seu ponto forte, ele pode estar no seu interior. 

Onde ficou perdida minha face?

Não sei, só sei que vou passar o meu batom vermelho, rimel e lápis nos olhos,

deixar meus cabelos ao vento, vestir meu vestido de festa e subir no salto, como sempre fiz e sair linda e maravilhosa curtindo os meus 63 anos. 

Faça o mesmo vc de 50, 60, 70, 80, 90...

E não se entristeça vivendo do passado e tendo medo de aproveitar a vida.

Se não usar mais salto, coloque uma rasteirinha ou se preferir fique descalça na areia da praia. 

Você é linda em qualquer idade.


(Cecília Meireles)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

sábado, 12 de dezembro de 2020

Eu acredito em amores eternos...

Eu acredito em amores eternos, daqueles que acompanham a gente pela vida inteira, como se tempo e amor se fundissem num só elemento, tornando-se imutáveis, indestrutíveis.

Eu acredito em amores eternos, daqueles que vão com você para qualquer lugar, não importando o quão distante você esteja, porque a pessoa amada reside em seu próprio coração.

Acredito em amores eternos e sublimes, capazes de reconsiderar tudo, com suavidade, ternura e perdão.

Acredito, sim, em amores para toda a vida, e além da vida, pois seria um tipo de amor unido à própria alma, e sem alma a vida não tem razão...

Amores eternos existem sim, e superam qualquer coisa, mesmo quando ninguém mais acredita neles, eles continuam sempre à espreita, esperando apenas um olhar, um retorno, uma reconciliação.



(Autor: Augusto Branco)

sábado, 5 de dezembro de 2020

Sobre o filho que se torna pai de seu pai!

 Feliz do filho que é pai de seu pai antes da Morte


Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios. 

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai. 

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais. 

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo. Colocou o rosto de seu pai contra seu peito. Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo. Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. ”



Autor do texto: Fabricio Carpinejar