segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Trinta linhas de prosa sobre o Casarão, by Jocemar de Souza Barros

“Trinta linhas de prosa sobre o Casarão”

... E como se percebessem aquele estado de quase abandono, as pequenas folhas secas e amareladas eram trazidas e conduzidas pelo vento, invadindo e deslizando alvoroçadas pelos corredores do velho casarão, e com o simples roçar de seus corpos leves com o chão, de certa forma, quebravam discreta e suavemente o silêncio e a sensação de vazio deixada pela ausência das pessoas.

Lá fora, a frondosa mangueira da frente do prédio, permanecia majestosa e balançando sua copa ao contato do vento, abrigando entre seus galhos e folhagem os pássaros que pareciam cantar reclamando a presença daquela gente, que até poucos dias atrás, circulava pelo passeio no entorno do jardim, desfrutando de sua generosa sombra e geralmente alheia ao cantarolar espaçado das aves, não lhes dando a merecida atenção, certamente tomada pela rotina e preocupações com os afazeres do dia-a-dia. Os camaleões, habituais vizinhos, pareciam mais atrevidos, arriscando um número maior de aparições e passeios à luz do dia, já sem tanta preocupação com a camuflagem ou mesmo com o risco de serem atropelados por alguém mais distraído.

Descontando-se o tilintar das folhas e o canto descontraído dos pássaros, era quase possível ouvir-se o silêncio ao passar pelos corredores do casarão.

Ao olhar para dentro dos salões apagados e vazios, guardando apenas a mobília abandonada, podia-se dar vazão a pequenos flashes de memória dos dias agitados de tempos recentes e mais ainda, lembrar-se de quantos já haviam passado por ali, em tempos mais remotos.

Na verdade, o velho casarão abrigou e assistiu algumas gerações - que se renovaram como tudo tem de ser, afinal - passando incólume pelo tempo, resistindo impávido à ação contínua e aos golpes frequentes da natureza.

Assim, em poucos dias, o velho casarão, após ter cumprido seu papel por décadas, fará parte do passado de toda gente que por ali passou, viveu e conviveu, e as folhas e o vento e os pássaros e até mesmo os camaleões, poderão passear livremente através de seus corredores, que pela simetria, muitas vezes confundiram os visitantes menos habituais, até que a estrutura cumpra seu destino final, voltando ao pó e guardando para sempre as várias histórias ali vividas, das quais foi parte integrante, dando lugar ao novo espaço planejado; quem sabe até, para ser um novo Casarão!

Jocemar de Souza Barros.

RJ, 22/09/2014



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