“Trinta
linhas de prosa sobre o Casarão”
... E como se percebessem aquele estado de quase abandono, as
pequenas folhas secas e amareladas eram trazidas e conduzidas pelo vento,
invadindo e deslizando alvoroçadas pelos corredores do velho casarão, e com o
simples roçar de seus corpos leves com o chão, de certa
forma, quebravam discreta e suavemente o silêncio e a sensação de vazio deixada
pela ausência das pessoas.
Lá fora, a frondosa mangueira da frente do prédio, permanecia
majestosa e balançando sua copa ao contato do vento, abrigando entre seus
galhos e folhagem os pássaros que pareciam cantar reclamando a presença daquela
gente, que até poucos dias atrás, circulava pelo passeio no entorno do jardim,
desfrutando de sua generosa sombra e geralmente alheia ao cantarolar espaçado das
aves, não lhes dando a merecida atenção, certamente tomada pela rotina e
preocupações com os afazeres do dia-a-dia. Os camaleões, habituais vizinhos,
pareciam mais atrevidos, arriscando um número maior de aparições e passeios à
luz do dia, já sem tanta preocupação com a camuflagem ou mesmo com o risco de
serem atropelados por alguém mais distraído.
Descontando-se o tilintar das folhas e o canto descontraído dos
pássaros, era quase possível ouvir-se o silêncio ao passar pelos corredores do
casarão.
Ao olhar para dentro dos salões apagados e vazios, guardando
apenas a mobília abandonada, podia-se dar vazão a pequenos flashes de memória
dos dias agitados de tempos recentes e mais ainda, lembrar-se de quantos já haviam
passado por ali, em tempos mais remotos.
Na verdade, o velho casarão abrigou e assistiu algumas
gerações - que se renovaram como tudo tem de ser, afinal - passando incólume pelo
tempo, resistindo impávido à ação contínua e aos golpes frequentes da natureza.
Assim, em poucos dias, o velho casarão, após ter cumprido seu
papel por décadas, fará parte do passado de toda gente que por ali passou,
viveu e conviveu, e as folhas e o vento e os pássaros e até mesmo os camaleões,
poderão passear livremente através de seus corredores, que pela simetria, muitas
vezes confundiram os visitantes menos habituais, até que a estrutura cumpra seu
destino final, voltando ao pó e guardando para sempre as várias histórias ali
vividas, das quais foi parte integrante, dando lugar ao novo espaço planejado;
quem sabe até, para ser um novo Casarão!
Jocemar de
Souza Barros.
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