segunda-feira, 24 de junho de 2013

Descaso no Hospital Municipal Salgado Filho

Ontem, dia 23 de junho de 2013, meu irmão caçula quebrou a perna num jogo de futebol. Depois de 4 horas à espera de atendimento no hospital  Municipal Salgado Filho, no Méier – RJ, minha cunhada ligou dizendo que meu irmão ainda não havia sido atendido, nem mesmo passado por triagem, ou dado entrada no prontuário do hospital. Nada! Saí da Barra da Tijuca, pagando o pedágio vergonhoso da Lamsa, na Linha Amarela e chegando lá, encontrei meu irmão com o pé apoiado em uma lixeira do hospital, sentindo muitas dores e sem nenhum tipo de atendimento. Como sempre, sou  obrigada a fazer valer o tom alto de minha voz, e começar a turbulenta ode anacreôntica, naturalmente encontrada em minha veia poética – que significa, mais ou menos, começar um discurso forte e dramaticamente grego! O hospital estava vazio... Alguns pacientes apáticos a espera de alguém que lhes tirassem a dor da inércia e da insensibilidade, que dói mais que a dor física. A meu lado, três ou quatro mães que já haviam cruzado meia via crucis, sem saber direito, quais seriam seus direitos; enquanto suas crianças padeciam macias em seus braços.  Observei que na recepção da emergência, haviam 3 pessoas, aparentemente focadas em seus afazeres, num domingo às 19:00h... e que não davam informações que lhes eram solicitadas. Do lado de fora, angústia e abandono. Ao observar as tais senhoras, notei que uma delas tinha uma grande mala de viagem, daquelas com rodinhas – aberta, e dentro haviam caixas de sapatos. Sapato? Ao olhar bem, enxerguei uma cena tão inusitada, que me trouxe à tona, não somente revolta; mas uma perturbação moral tão imensa, que minha voz falou ainda mais alto, com repulsa diante da imagem grotesca que presenciei. As mulheres que deveriam estar trabalhando, estavam comercializando sabonetes artesanais – que eram retirados das caixas de sapatos e finamente dispostos sobre a mesa de trabalho de uma delas. Sabonetes artesanais com formas de lua, melancia, com sementes de maracujá, bicolores, etc. Bradei, envolvida com as manifestações e protestos desta semana, e chamei a atenção de todos os presentes. Ora, como pode, num momento de despertar coletivo em favor à democracia brasileira, alguns se mostrarem alheios, inertes ao chamamento político de mudança que grita, num alarido uníssono que transborda os limites da nação, sendo ouvido em todos os cantos do mundo, com o intuito de transformar a pocilga Estatal em que vivemos, em uma pátria mais que amada; um Estado soberano, onde os cidadãos devem ser  vistos como seres humanos merecedores de respeito e condições dignas? Naquele momento, eu ali, não era Andréia, irmã do Victor, era uma brasileira cidadã, indignada e com ganas de insurgir contra o sistema laico, que massacra o próprio povo que lhe deu autoridade suprema para exercer o comando e o controle do nosso Brasil.  Mais que nunca, meu direito de clamar se tornou lícito. O direito à saúde, é legítimo, porque está escrito como cláusula pétrea na Constituição Federal deste país. Meu descontentamento inflamou os doentes e seus familiares – que se transformam em eleitores, quando assim é necessário, para que a imundice política se mantenha no poder. E aí... somente aí, conseguimos ser vistos como cidadãos, pagantes de impostos, detentores ao direito à saúde pública deste país.

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