domingo, 17 de novembro de 2019

Reunião de Mães que perderam seus filhos e filhas - Nov 2019


Quando a saudade une a mesma dor, a gente se sente acolhida, são tantas histórias, tantas famílias, tantas mulheres com vidas diferentes, idades, credo, cores... mas todas tem o mesmo sentimento de perda, sentem a mesma saudade, e tem os melhores e mais acolhedores abraços do mundo... como se no meio de cada abraço, tivesse um pouquinho da perda preenchida. Encontro de Mães que perderam seus filhos. Um dia de confraternização, onde cada uma leva sua dor, e o pedacinho de coração que ainda possuem, para doar umas as outras, a fé e a esperança de um reencontro, um afago de Deus, a sustentação do corpo e da alma quebrantada, um apoio para seguir a vida, acordar a cada manhã, e seguir até o fim da missão de cada uma delas.


Eu não sou mãe, mas sou uma irmã que sofre demais a perda do caçula. Que sofre e que não consegue segurar as lágrimas dentro dos olhos... minhas águas transbordam, a saudade me sufoca e tem dias que não consigo respirar. Eu não consigo imaginar a dor de uma mãe que perde seu filho. Eu tenho minha mãe do meu lado, mas não consigo conceber a dor que sufoca em seu peito. Assim... eu escuto de outras mães, o sentimento é o mesmo. A dor é igual. Tem mãe jovem, mãe idosa, mãe que perdeu um filho há pouco tempo, mãe que perdeu seu filho ou filha há muito tempo, tem mãe que perdeu 2 filhos e até uma mãe que perdeu seus 3 filhos... inacreditável, mas é verdade. É tanta dor, que não consigo expressar em palavras... a gente escuta, sente, abraça e pede que Deus dê forças a cada uma delas, para que todas essas mães possam seguir adiante, pois muitas ainda tem filhos pequenos ou outros filhos que precisam delas. Eu não suportaria passar por dor maior do que já passo. Perder meu irmão foi a pior e mais dolorosa experiência que tive e que terei até o dia do meu descanso final. Não há um só dia que não lembre do Waltinho, que eu não sofra, que eu não tenha vontade de chorar. Nada foi tão ruim do que perder meu irmão - principalmente da forma maldosa que foi... Quando fui convidada para a confraternização, não imaginei que haveria uma surpresa pra mim, a camisa de "irmãos para sempre" que o Grupo de Mães amigas fez pra mim. Na mesma hora, meus olhos transbordaram, vem tudo, volta tudo numa velocidade intangível. Todas as lembranças chegam como um raio. Dá aquele nó na garganta e aquela vontade de vomitar, misturada com a saudade, o aperto no coração e a falta de ar. Limpei minhas lágrimas, recebi abraços e fui ao banheiro, lavar o rosto e colocar a camisa do Waltinho.  Meu irmão, meu primeiro amigo, minha melhor herança, meu mais precioso tesouro.


Nesse encontro, como disse, tem várias mães, de formas diversas, histórias diferentes, de diversos lugares do Brasil. Todas unidas pela mesma dor. Todas com o sorriso no rosto e lágrimas na alma. Todas passaram pela pior experiência que uma mãe pode ter, que é ver um filho ir embora antes dela. Só mesmo Deus para dar a força necessária para seguir adiante, mutilada, sem um pedaço do seu coração. Mães que perderam seus filhos, são mães sem nome, não há definição na língua portuguesa, e em nenhuma outra língua conhecida.  Se um filho perde os pais, é órfão, se alguém perde o cônjuge, é viúvo... Mas como chamar a mãe que perde seu filho? Mães sem nome, só quem conhece essa dor, sabe o que é de fato. Que Nossa Senhora possa abraçar a todas as mães que perderam seus filhos, com seu manto azul sagrado e que lhes conceda a força necessária para continuar a viver. Mães amigas na dor, saudade amiga da alma.
#mãesamigas
#mãessemnome

Agradeço o carinho, o suporte que deram a minha mãe pela perda do Waltinho. Agradeço a acolhida, cada abraço que recebi, cada história que ouvi, cada detalhe do filho amado de vocês. Obrigada por existirem (mas não gostaria que existissem mães sem filhos), obrigada pela comida gostosa que fizeram - comida de uma mãe de São Paulo, que veio trazer seu carinho em forma de culinária às mães do Rio de Janeiro. Ás mães de outros estados, às mães adotivas que sofrem tanto quanto às mães biológicas. Eu ouvi tantos relatos, que fiquei emocionada demais. Chorei o dia todo, saudade, tristeza, pesar, carinho, alegria, saudade, tristeza, pesar, carinho... tanta emoção misturada... mas os abraços e os ouvidos são lenitivos às almas. Precisamos ouvir, precisamos escutar as dores de todas as mães que perderam seus filhos. Muitas vezes, sofrem e choram caladas, porque não se sentem à vontade de falar dos seus sentimentos com familiares e amigos, que não entendem a necessidade de colocar pra fora toda a dor, toda a angústia. Não guardem esse sentimento. Falem... falem todos os dias, e quando quiserem. Eu falo do Waltinho todo dia, eu falo com o Waltinho todo dia... eu só não escuto a voz dele, mas eu sei que ele me ouve. Eu falo do meu irmão como se ele estivesse vivo, porque realmente está - dentro do meu coração, nas minhas lembranças, na minha vida... e não quero que ele saia do meu peito. Minha terapia é falar, externalizar meus sentimentos nesse cantinho, nesse blog, que passou a ser meu diário de dor, de saudade, de tudo que eu  quiser falar, de tudo que eu precisar expor. Eu falo, escrevo, choro, relembro memórias, troco de assunto como troco de roupa, simplesmente porque eu não tenho que seguir protocolos, o blog é meu, o irmão é meu, a saudade é minha, a dor é minha e eu me sinto melhor quando tento colocar em palavras meus sentimentos. Mães, falem de seus filhos, não sufoquem o sentimento dentro do peito. Se precisarem falar, eu estou por aqui, o Grupo de Mães Amigas, também está aqui pra ouvir a abraçar. 








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