sábado, 15 de janeiro de 2011

15/01/2010 - 15/01/2011


Há um ano atrás, ele ligou. Ela estava em casa, já havia tomado alguns tranquilizantes... atendeu ao telefone grogue, sem entender direito o que estava acontecendo. Ele nunca havia ligado pra falar daquele jeito... como um menino que precisa desesperadamente de um colo de mãe. Ela não podia fazer nada, estava sem pernas, sem atitude, sem a força que sempre demonstrava a todos. Ela também estava fragilizada, ela também estava num beco sem saída. Se vira - ela falou... E logo ouviu o estrondo de um trovão. A chuva já caía intensa onde ele estava... E com pouca roupa, sem dinheiro, de chinelos... um pingo de remorso a corroeu naquele momento... mas a vida deles era assim mesmo. Ele nunca havia ajudado quando ela precisava de uma urgência, e quantas urgências ela já passara. Ela deu a ele a importância que ele sempre dera a ela! Não por raiva, não para pagar na mesma moeda... apenas porque a vida dela também estava uma bagunça. E a bagunça dela, ela mesma ajeitava, batia a cabeça contra a parede, tomava remédios e dormia chorando baixinho, ninguém sabia. Ela sabia que só podia contar consigo mesma... mas ficou preocupada e o sono forçado demorou ainda mais a chegar. A merda tava feita, já havia sido jogada no ventilador. Ele é homem, ele vai dar o jeito dele... Hoje, um ano depois do episódio, ela se pergunta se não podia ter feito alguma coisa. Ela mescla um pouco de culpa, um pouco de pena, um tanto de saudade... Hoje, ele não está mais aqui! Como pode o tempo ser tão cruel com o ser humano? O tempo passa e passa, e não pára de passar. Hoje ela se lembra... não tem como esquecer... Pra ela também foi uma data marcante, também foi sofrido, ela também teve sua tempestade, seus ventos e trovões. Deram cabo dele... como se fosse um sapato velho. Aniquilaram o resto de vida que ainda pulsava em seu peito. Depois daquele dia, os dias dele foram regressivos... cada dia, menos um dia... e ninguém sabe porque ele se deixou ficar, definhar, exterminou-se... Ele se entregou ao carrasco. Ele se atirou dum precipício... Ela, nada pôde fazer... Eles chegaram a falar, sussurrante em algumas ocasiões... ele tomou o medo pra si. Já não era quem sempre fora. E ela, assistindo a tudo, sem nada poder fazer.

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