quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Desabamento no Rio de Janeiro - 25/01/2012

Grandes acontecimentos, quando nos chocam, parecem ser eternizados na mente, de forma nunca mais apagar... Em 11 de setembro de 2001, eu estava numa sala de espera, num consultório em Copacabana, para uma consulta com um otorrinolaringologista... eu vestia uma saia creme e uma blusa de seda, com manga comprida, verde... o horário, entre 09:30h e 10:00h, estava lendo uma revista e de repente, alguém chamou a atenção para as imagens que apareciam na televisão sem som, presa no alto da parede do consultório. Sem entender direito o que estava acontecendo, a recepcionista do consultório aumentou o som; e nesse mesmo segundo, o celular tocou, era meu marido, na época, me ligando pra dizer aquilo que eu via, mas não acreditava no que estava vendo... Foi assim que gravei o episódio que chocou o mundo em 11/09/2001... aquele momento ainda está vivo em minha memória, e jamais irei esquecer... Assim como, nunca mais poderei esquecer o desabamento dos prédios do Centro, na Av. 13 de Maio... mas dessa vez, por mais de uma razão: eu trabalhei em um daqueles prédios! Noite de quarta-feira, dia 25/01/2012... tinha acabado de fazer uma prova na pós graduação e estava com um amigo da pós em um barzinho próximo... eram 21:00h e então, novamente, olhei para a tela da TV do bar, sem som... imediatamente, reconheci o local que estava sendo mostrado, e um arrepio de terror percorreu-me a espinha: eu conhecia o local,,, o que aconteceu? Como assim, desmoronou? Mais uma vez, aquele momento foi gravado em minha mente... a roupa que estava usando, as conversas sobre a prova que tinha acabado de fazer... o gosto amargo que subiu por dentro, quando imaginei que pudesse ter sido um acidente com gás! Aí, minha empresa estaria ligada ao acidente? Um monte de coisas passou ao mesmo tempo pela minha cabeça... e imediatamente lembrei da época que trabalhei lá, naquele prédio... entre 1995 e 1997. Lembrei dos meus colegas de trabalho um a um... ainda que a empresa não estivesse mais funcionando naquele endereço... aliás, com o falecimento do diretor presidente da empresa, a mesma foi perdendo as forças, e depois de um tempo, fechou... mas ainda assim, mesmo depois de aaaanos que trabalhei lá, meu pensamento voltou ao tempo... pela imaginação, entrei na portaria, e subi pelo elevador... e quando este chegou ao 15 andar, e a porta se abriu, eu visualisei a grande porta de vidro, vi meu amigo (até os dias de hoje) Jorge atrás do balcão, fazendo seus clipings sobre aviação, lembrei do barulho da porta da Regina (minha amiga até hoje), passei pelos banheiros, pelos corredores e entrei na minha antiga sala... Revi mentalmente as maquetes de aviões em cima do meu armário, a grande máquina de escrever onde eu batias as fee`s para remessa internacional... meu computador grandão, o cofre da empresa, os arquivos, a sala de um outro diretor, a sala do coronel Cleber (meu amigo até hoje também) com a janela, onde muitas vezes eu me debruçava para ver os pombos que voavam por ali... os quadros com os cockpits das aeronaves comercializadas pela empresa, e então, mentalmente, entrei na sala do meu chefe. Um homem inteligentíssimo, austero e refinado, que me ensinou muito a ser profissional. Sua sala era enorme, tinha um jogo de sofá verde e uma grande mesa de centro, com uma maquete de avião no centro. Uma parede com muitas, mas muitas fotografias, desde a época em que era militar na ativa, até outras daquela época. A mesa de trabalho dele era de madeira escura, imensa, tinha um telefone PABX, hoje bem antigo, uma janela grande de vidro, e um aparador abaixo da janela, percorrendo 2 paredes, cheios de livros. Tinha também uma diminuta copa na sala do chefe, com um diminuto banheiro... O prédio era comprido, do lado da frente do edifício, ficavam a parte financeira, RH e administrativa. A parte de trás, eu, o diretor presidente e o coronel Cleber. Minha amiga até hoje, Daniela, trabalhava ali também... Eu lembrei de muitas coisas... muitos acontecimentos. Minha primeira separação, a morte de Renato Russo, onde eu chorei enquanto trabalhava, e ouvia baixinho, a notícia... meus estudos, minha mudança de casa, partes de minha vida, minha juventude. São caixas e caixas de lembranças, tão vivas em minha memória. Sobre o edifício, antes da livraria do térreo, tinha uma padaria, e subia um cheirinho de pão... o porteiro Cornélio, sempre sorridente, entregava as cartas e o jornal do meu chefe. O Cornélio foi embora junto com o edifício... assim como parte do que eu vivi ali. Agora, só na lembrança... De vez em quando, quando eu passava pela Av. 13 de maio, eu passava por lá, dava um oi... Ainda quando a empresa funcionava lá, passei uma vez para visitar meus ex-colegas de trabalho... quando a porta do elevador se abriu, eu falei: que bonito, trocaram o elevador. Mas o Cornélio se apressou em dizer: trocaram, não... fizeram uma "maquiagem" no elevador. As paredes e o chão foram reformadas, mas as engrenagens, não! Um fato relevante para contar, foi que meu diretor, havia sofrido um acidente no elevador, antes deste ter sido "maquiado". Meu chefe entrou no 15 andar para descer e o elevador teve uma pane, e resvalou alguns andares. Somente meu chefe se machucou, outras pessoas, que estavam no elevador, só levaram o susto... mas meu chefe sofreu com a queda. Ou seja, aquele prédio era estranho... muito antigo e desde aquela época, não tinha manutenção... mas nada que pudesse por em risco o edifício inteiro... Não consigo imaginar... e mesmo vendo, não dá pra acreditar que tudo desmoronou... É difícil entender como uma coisa dessas aconteceu. Eu sei, que depois desse episódio, houve uma comunicação intensa, porém silenciosa, entre todos meus amigos, nós, que trabalhamos juntos ali, e que depois de tantos anos, ainda mantemos contato... um foi ligando pro outro, e lamentamos muito o ocorrido. Creio que não foi apenas eu, que tive essa avalanche de sentimentos. Foi uma tragédia, e só de pensar que poderia ter sido muito pior, caso acontecesse algumas horas atrás, arrepia minha alma. É complicado demais explicar todo o sentimento que envolve um evento desses. Eu sinto muito pela perda das famílias e também pelas pessoas que tinham seu trabalho, sua vida enterrada naqueles prédios. O Rio de Janeiro está de luto. E que pelo menos, tudo isso sirva para que pessoas pensem antes de começar uma obra em suas propriedades... Uma vida humana, não tem preço! E comigo, ficam as lembranças dos anos em que trabalhei ali. Fiquem com Deus!

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