domingo, 12 de agosto de 2018

Dia dos Pais de 2018


Obrigada, Mãe, por ter sido meu Pai.
Obrigada ao meu tio Guzzo, por ter feito por tantos anos, o papel de pai, tio e amigo, para mim, para o Waltinho, para Felipe e Priscila. Tilzão que brincava com a gente, levava todos nós pra pescar, jogar bola no Aterro, sempre presente em nossas vidas.
Obrigada, mamãe, por ter trabalhado e criado Waltinho e a mim... eu sei que não foi fácil... foi muita luta, uma batalha por dia, mas nunca deixou de colocar o arroz e feijão no nosso prato... pagou escola pra quem quis (Waltinho, infelizmente não quis), mas eu pude aproveitar o que a senhora pôde me oferecer.
Vejo tanta gente feliz com pai
Vejo tanta gente que não dá valor ao pai
Vejo tanta gente que não teve pai
Nós tivemos pai: Waltinho, Victor e eu... mas uma pena que nosso pai nunca valorizou os próprios filhos. Meu pai já se foi, não está mais aqui, mas teve muitas chances de se retratar - mas não o fez... morreu fazendo cagada, deixando os filhos preteridos - e criando filhos velhos das putas que ele tinha. Enfim... sempre preferiu criar os filhos dos outros que os próprios. No funeral, tinha gente chorando em cima do caixão e o chamando de pai... pai? Olhei para Victor e para o Waltinho com aquele olhar de indagação: "estão chorando no defunto certo?" Deixa eu ver se eu não estou enganada, de repente eu estou enterrando o pai dos outros... e lá estava o Cancão... solene, todo apertadinho no caixão pequeno para a soberba e idiotice que ele carregou durante a vida. Foi preso por minha mãe algumas vezes, por falta de pagamento da pensão alimentícia: 40% de um salário minimo para os 2 filhos (Waltinho e Eu). Nunca aparecia no dia dos Pais pra ficar com a gente... Waltinho, tadinho, não entendia e chorava o dia todo, achando que minha mãe era a culpada por meu pai não dar o ar da graça. Um dia, esperamos por ele na pracinha do Catolé do Rocha, porque o Cancão era tão filho da puta, que minha mãe, finalmente havia conseguido na justiça uma ordem judicial para ele não se aproximar dela (imagina o que minha mãe passava pra conseguir isso) 500 metros. Estava marcado para aparecer às 09:00h - ia passar o dia dos pais conosco. Deu 10:00, deu 11:00... 12:00... até que uma vizinha passou e avisou a minha mãe que estávamos sentadinhos, aguardando o papai chegar... que não chegou.
Imagina... uma revolta só.
Nunca ajudou, nunca pagou escola, nem curso de inglês (que mamãe pagou fazendo faxina). Ahhhh, vale comentar que papai um dia,  no dia das mães apareceu lá em casa, chamando a gente pra sair, ir a praia, ir almoçar... e o pior de tudo, eu e waltinho fomos. Coisas que vão me atormentar enquanto eu viver... Como pudemos fazer isso com nossa mãe? Lembro que quando voltamos à noite, a bichinha estava com os olhos vermelhos de tanto chorar...  A gente tinha ficado tão feliz por ele ter aparecido lá em casa (coisa raríssima) , que nem pensamos que era dia das mães... Mas ele era adulto... ele sabia. Naquele tempo não tinha alienação parental... minha mãe era uma mulher sozinha, pobre, cuidando de 2 filhos, tentando sobreviver.
A vida é uma merda!
Mas a gente aprende!
A gente se fortalece!
Minha mãe venceu!
E eu venci junto com ela.
Crescemos
Sobrevivemos
Mas meu irmão mantinha aquele amor cego de filho pra pai... eu o amava, mas Waltinho amava ainda mais.
Victor não era nascido ainda... mas também recebeu o desprezo do nosso pai como herança.
No fim de sua vida, deixou o pouco que tinha pra gente que nem conheço. foda-se!
Eu não precisava... nunca precisei do meu pai. 
Mas meus irmãos sim.
Waltinho tinha uma decepção enorme, mesclada com amor e interrogações... Victor faz cara de quem não tá nem aí... mas tá! Está sim, porque dói. Desprezo de pai dói, sim...
Depois que Waltinho descobriu o câncer, algo dentro de mim parou... deu um STOP e nunca mais senti vontade de rezar pelo meu pai. Todo mês eu mandava rezar missa pra ele, sempre o tinha em minhas orações... mas nem sei dizer o que aconteceu... ou o que não aconteceu... simplesmente deixei de ter vontade... talvez porque meu irmão é muito mais importante pra mim, do que meu pai... sei lá... ainda não conversei com a psicóloga sobre isso... porque o Cancão (assim chamava meu pai) deixou de ser saudade, talvez porque nunca tenha sido referência... Meus tios são mais importantes na minha formação. Tio Guzzo supriu para nós a figura de pai. Sei lá... muita coisa na cabeça pra tentar entender isso agora. Waltinho antes de morrer teve alguns sonhos com o pai. E este estava calado... e calado ficou. Waltinho mandou um whatsapp falando sobre o sonho - meio sem pé nem cabeça... mas ficou claro que Cancão entrou no sonho mudo e saiu calado. Minha mãe também sonhou com ele: mudo, cabeça baixa, com suor na testa... conversou com ela por telepatia, não elevou os olhos... eu não lembro de ter sonhado com ele depois que o Waltinho morreu. Mas antes, sempre sonhava com ele... e ele nunca me respondeu o que eu perguntava a ele nos sonhos. Coisas loucas, sem explicação...
Depois eu escrevo mais sobre isso... eu tenho muito que escrever sobre lembranças boas, minhas e do Waltinho (algumas até com a presença do meu pai, ainda casado com minha mãe). Mas hoje é o que tenho. É o que me toca escrever... Minha escrita é livre, meus pensamentos também. Um dia, quem sabe, tudo faça mais sentido. Mas hoje, no dia de hoje, eu sinto saudades do meu irmão, que não está aqui pra receber o abraço do filho. Hoje eu agradeço por ter passado o dia com tio Fausto,  e com minha mãe. Levei ela e tio Fausto para visitar tio Guzzo... vi tia Armida. Comi mimida gotosa de mamis, passeamos, o dia passou, fluiu...
Feliz dia dos pais pra quem é pai!
Feliz dia dos filhos que tem um tio ou uma mãe que faz o papel de pai.
A vida segue seu curso.
Saudade de você, Waltinho.

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