Desde março desse ano, o Ney Sayão e eu começamos uma obra juntos... foi o nosso reencontro depois de vários anos sem um ter notícia do outro (embora ele pudesse me procurar no trabalho)... desde então, todo sábado temos um encontro marcado pra ver nascer mais um pedaço dessa arte maravilhosa, que sai das mãos de um artista completo, que junta arte e extrema sensibilidade para todas suas obras. Essa semana, a escultura já não precisa mais ficar "enrolada" num monte de pano e sacos plásticos... agora ela está exposta, esperando secar a terracota, para logo ir ao forno de uma olaria, por 7 dias, e depois então, o grande artista plástico, Ney Sayão vai dar o brilho e acertar algumas correções que conforme ele me explicou, a escultura seca mostra mais detalhes (eu acho que tá linda demais... nem precisaria mais nada, mas o Ney é extremamente meticuloso e perfeccionista...)... depois então, ela estará pronta! Vou dizer um segredinho: quando eu vi o Ney levando a sua caixa de ferramentas, que ficou todo o tempo aqui em casa, me deu um nó na garganta... isso significa que por aqui, o trabalho dele já acabou... e isso me deu uma certa tristeza, pois provavelmente, ele não estará mais aqui todo sábado pela manhã... Fiquei com vontade de recomeçar tudo outra vez... ficar impressionada, vendo ele montar o barro, ver um pedaço sem forma de argila formando uma imagem, e depois a grande satisfação de começar a me descobrir nos contornos de suas mãos firmes e abençoadas... ele me detalhou com seu olhar, conhece como ninguém mais a geografia do meu rosto... as linhas e as expressões mais significativas... e as mais sutis. Ao mesmo tempo que eu estou feliz, eu estou ficando triste. Foi uma fase maravilhosa, um tempo que eu também pude conhecer melhor esse ser humano, saber quem ele é, descobrir um pouco do que ele pensa, embora niguém seja capaz de imaginar o que um artista pensa. Às vezes, ele ficava minutos inteiros me observando... outras vezes, eu o pegava de pé, sozinho, olhando a escultura... com o olhar perdido em pensamentos, parecia que ele estava passeando por dentro da imagem... eu gostava de vê-lo apreciando a escultura... ele ficava de longe, olhando perfis talvez imaginários... sei lá... mas era gostoso ver isso tudo acontecendo. Um dia, se Deus me permitir ficar bem velha, vou ficar relembrando cada sábado que passamos juntos... as caras e bocas que eu fazia enquanto ele trabalhava... as músicas que a gente ouvia, as poses imóveis que eu ficava pra ele captar os detalhes necessários que foram transferidos à imagem, para que qualquer pessoa que veja a obra, tenha a certeza de que ali, tem muito mais que minha imagem... que o busto tem muito mais que um rosto... tem muita história... a minha história está ali, moldada pelas mãos desse amigo, desse artista ímpar, Ney Sayão.
Ney Sayão imprimindo a força de minha mão, em meus cabelos.
Ney Sayão imprimindo a força de minha mão, em meus cabelos.
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