sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Um Pesadelo Recontado - fev/2011



Era muito doloroso engolir o mal que aquele senhor fizera a eles. Anos e anos passavam, e o moço refletia sobre as razões de tamanha desconsideração.

E o moço lhe fora tão fiel, tão companheiro, tão servil... por que seu pai lhe tratara daquele jeito?

Em seus sonhos, o pai estava sempre sereno, sempre calado, mas mantinha um sorriso amarelado no canto da boca; parecia bem, mas o filho nunca conseguia perguntar sobre aquilo que lhe doía no peito e que engasgava na garganta. Reze, eu dizia a ele. Reze, pois rezando, quem sabe esse nó se desfaça mais rápido. A oração, quiçá, possa dissolver essa bola de mágoa. O moço perdia as palavras, e em seu silêncio, eu sentia o tamanho e o peso de sua decepção... eu também havia provado o abandono. Um triângulo de tristeza se fechava em razão daquele senhor. Três pontos, cheios de interrogações. Deles, se exprimiam apenas tristes recordações e saudades suprimidas pela dor do desamor. O pai, nunca os amou. A dura realidade provava isso. Não herdaram nada do pai, não restou-lhes nada além  do que vagas recordações, infimamente felizes, mas tão vazias, que no fim, nem ocupavam espaço na memória. Mesmo assim, eles rezavam, em meio ao conformismo de quem, perdeu quem nunca realmente teve.
Mas eles ainda tinham um ao outro. Eles eram o resultado de uma soma mal calculada, mal feita. Mas ainda assim eles eram bons... os três eram muito bons... apesar de seus defeitos, são bons, mas não são perfeitos.

O fim da história, não foi feliz, não foi bom... o sonho em si, se tornou pesadelo... realidade anunciada, profetizada alguns anos depois. Uma ponta foi para o céu, não aguentou... a bola de mágoa era grande demais para que se desfizesse. Definhou-se uma ponta... e o triângulo para sempre ficará capenga... tripé de duas pernas. Nunca mais completo.




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