Era muito doloroso engolir o mal que aquele senhor fizera a
eles. Anos e anos passavam, e o moço refletia sobre as razões de tamanha
desconsideração.
E o moço lhe fora tão fiel, tão companheiro, tão servil...
por que seu pai lhe tratara daquele jeito?
Em seus sonhos, o pai estava sempre sereno, sempre calado, mas
mantinha um sorriso amarelado no canto da boca; parecia bem, mas o filho nunca
conseguia perguntar sobre aquilo que lhe doía no peito e que engasgava na
garganta. Reze, eu dizia a ele. Reze, pois rezando, quem sabe esse nó se
desfaça mais rápido. A oração, quiçá, possa dissolver essa bola de mágoa. O
moço perdia as palavras, e em seu silêncio, eu sentia o tamanho e o peso de sua
decepção... eu também havia provado o abandono. Um triângulo de tristeza se
fechava em razão daquele senhor. Três pontos, cheios de interrogações. Deles,
se exprimiam apenas tristes recordações e saudades suprimidas pela dor do
desamor. O pai, nunca os amou. A dura realidade provava isso. Não herdaram nada
do pai, não restou-lhes nada além do que
vagas recordações, infimamente felizes, mas tão vazias, que no fim, nem
ocupavam espaço na memória. Mesmo assim, eles rezavam, em meio ao conformismo
de quem, perdeu quem nunca realmente teve.
Mas eles ainda tinham um ao outro. Eles eram o resultado de
uma soma mal calculada, mal feita. Mas ainda assim eles eram bons... os três
eram muito bons... apesar de seus defeitos, são bons, mas não são perfeitos.
O fim da história, não foi feliz, não foi bom... o sonho em
si, se tornou pesadelo... realidade anunciada, profetizada alguns anos depois. Uma
ponta foi para o céu, não aguentou... a bola de mágoa era grande demais para
que se desfizesse. Definhou-se uma ponta... e o triângulo para sempre ficará
capenga... tripé de duas pernas. Nunca mais completo.
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