segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
A Caminhada de Ana de Lumiar
A Caminhada de Ana de Lumiar
Então foi assim: Ana sentiu uma enorme vontade de subir para procurar tesouros escondidos na Pedra Riscada. Ela vive em um paraíso chamado Lumiar... Se tem frio, encontra-se aconchego; se faz sol e calor, lá se vão vários mergulhos de vida e renascimento nas águas de cachoeiras mágicas distantes. Conta uma lenda local que Mão de Luva teve a seu favor 1.425 metros de altitude com várias possibilidades de guardar um tesouro riquíssimo que nunca ninguém conseguiu encontrar e por isso mesmo, ainda está lá. Ana e seus três amigos num ímpeto de curiosidade e descoberta marcharam para a Pedra Riscada imediatamente após sairem de uma conversa informal. E os amigos partiram já com o sol alto, sabiam que só chegariam ao topo no final do entardecer. E no cair repentino da noite, em meio a subida, nada mais se via, senão o minúsculo diâmetro de luz que saia da fraca lanterna em suas mãos, direcionando seus passos, um a um... A atenção para seguir o caminho, para não perder a trilha deixou o grupo em silêncio, porém a caminhada seguia tranquila e serena, mesmo nos trechos onde havia mais perigo e algumas escaladas. Os declives, a terra molhada, as raízes soltas cruzando o estreito pedaço de chão batido devido a erosão de outros passos, as folhas batendo na direção dos olhos, a mata tentando se defender de desbravadores passantes, o cheiro de mato fresco, batizado pela fina garoa que mantém as folhas verdes... Ana sabia que precisava se concentrar em seus passos se quisesse encontrar o tal tesouro, não podia se desviar daquele caminho. A respiração ofegante e o estalar de galhos quebrando a cada pisada, era naquele momento o parceiro musical perfeito para a trilha sonora do mundo, junto com o vento que balançava as árvores e ainda aquele silêncio surdo que somente poucos tem por gratidão ouvir, faziam arranjos orquestrais aos ouvidos de Ana. Ali naquele momento, esqueceu-se a fome, a sede e o cansaço... O objetivo era alcançar o topo, diagramar a terra, descobrir tesouros. E ainda deitar-se sob as estrelas e agradecer aos céus a chance de estar em contato direto com a terra, sendo observada intimamente pela lua, desnudando seus medos e desvirginando mistérios. Finalmente o merecido descanço, o sono velado por anjos da floresta, viventes eternos do pouco que resta da nossa Mata Atlântica. Ana acordou antes mesmo dos primeiros raios de sol; trazia no coração a esperança de encontrar a riqueza que buscava em um novo amanhecer... não queria perder o nascimento de um dia que a teria como testemunha. Ana pôs-se a procurar o tesouro, cada amigo em uma direção... mas Mão de Luva passara diversas noites naquele mesmo lugar e o guardou em um lugar onde nem mesmo ele saberia dizer. O tesouro continua guardado em algum canto dessa imensa rocha, mas apesar disso Ana sentiu-se recompensada pelos inesquecíveis momentos dividos com seus amigos, cercada pela beleza selvagem daquele pedacinho de completude e resolveram que já era hora de descer à terra. Eis que no caminho de volta, com o dia brilhando sobre as cabeças do grupo, Ana surpreendeu-se com o caminho que haviam traçado na noite anterior... A fina trilha era rodeada de perigos, armadilhas e precipícios; a cada passo que se seguia, Ana se lembrava do pouco que enxergara em determinados momentos quando a escuridão se fazia soberana na mata.À noite, Ana não se preocupou com a altura dos tombos ou com os escorregões que poderia ter sofrido; não pensou em ficar presa em armadilhas, em resvalar seus pés em terreno escorregadio... Seu foco era não se perder do caminho, não errar a trilha, seguir adiante com o firme propósito de achar um baú cheio de riquezas, conforme diz a lenda do povoado. E Ana achou seu tesouro... Não aquele, que ainda segue perdido na pedra de Lumiar. Ela sabe que seu tesouro é mais extenso que a montanha que desce até o mar... Ana não parou, não olhou pra traz. Ana seguiu em frente, cumpriu sua caminhada sem contar seus passos... simplesmente seguiu lado a lado dos perigos da floresta, dos barrancos, não teve medo de cair, foi andando com suas próprias pernas e isso faz Ana crescer, ser forte, ser guerreira, ser dona de seu destino. Suas caminhadas a transformam cada dia mais em um ser especial. Ana é gente, Ana é força, é amor, é batalha, é recomeçar de novo sempre um novo começo, assim como a aurora que desperta a cada manhã. Ana é luz e essa luz é o seu maior tesouro!
Com todo meu carinho,
Andreia
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