sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Véspera de Natal - 2010


Foto tirada do àlbum de família.
Minha mãe, com o Waltinho e comigo, no corredor da Lavradio. Lembranças de um tempo bom.


Tem época, que eu preciso fazer cara de paisagem... agora, é uma dessas épocas... às vezes, eu pareço criança... criança que precisa ser enganada para a mãe poder ir trabalhar, senão, a criança chora... Estou assim nesse momento... vou me enganando, fingindo que não é comigo, fingindo que está tudo bem... mas na verdade, eu odeio natal! Detesto essa festa... que não tem nada a ver com o verdadeiro espírito natalino... destesto ir no supermercado, e ficar fazendo lista dos nomes de quem eu tenho que comprar presente de natal... me sinto na obrigatoriedade do mercado de consumo... detesto. Detesto o trânsito, os shopping centers e tals... Natal não é isso... Esse ano, eu não ia fazer ceia em minha casa, de novo... ia pra casa de minha mãe, e depois sair de visita por aí... e tenho todos os motivos do mundo pra isso... não só pessoal, mas também motivos profissionais. Mas meu irmão caçula que é paraquedista, estará direto em serviço especial no Complexo do Alemão, por conta da guerra urbana que estamos vivendo e que a mídia parou de dar importância pra incentivar os consumistas a comprar presentes, perú de natal e assim, todos da "massa", esquecem das realidades da cidade... Então, até meados de janeiro, meu irmão não terá descanso, festas de fim de ano, família... estará de tocaia no meio da mata, de sol a sol, de chuva a chuva... e ontem à noite, eu rezei por ele, no meio da tempestade que caía na nossa terra... ninguém repara, mas eu rezo e envio boas energias pro Victor o tempo todo. Tenho medo dele lá, dormindo na mata, com suas armas pesadas, acho que é 762, o calibre... cuidando para que o morro não seja invadido por bandidos, que por mim, mereciam estar todos enfileirados, indo em fila indiana para o inferno... Pois bem, então, por esse motivo, minha cunhada e meu sobrinho Gabriel estão aqui em casa, e eu farei nossa ceia aqui... Eu queria todos aqui... eu queria o Waltinho, minha mãe, meus amigos, todos os que me são queridos... Mas a vida adulta nos conduz a caminhos diversos... não dá pra se ter tudo que quer, né? A vida é assim, não fui eu quem a inventou... Mas estou imensamente feliz que tenho um pedacinho de mim e de minha família por perto, que é o Gabriel. Mas indubitavelmente, tenho meus momentos de nostalgia, de saudade, meus segundos intrínsecos, totalmente meus, que eu dou uma "viajada" no meu passado e me vejo pequenininha... quando eu ainda acreditava que papai noel era de verdade... e aí, uma coisa me leva a outra: passado. Mãe, pai, irmão, primos, vizinhos, aquela parentada toda, me lembro da Rua do Lavradio... Lembro-me da Cema... Iracema Magalhães da Cunha... minha amiga, que me viu na barriga da minha mãe, que costurava os vestidos mais lindos que uma menininha poderia ter... e que ainda hoje, me guarda e me acompanha, do outro lado da vida... lembro da Ivana, da Lena, do Totonho, da Helena do Totonho... dos vizinhos que eram todos meus tios. Lembro das festas de fim de ano, com todos os apartamentos com suas portas abertas... eu entrava e saía de todas as casas, em todos os andares... todo mundo ali me viu nascer... Eu lembro que meu pai se vestia de papai noel... Eu lembro da minha mãe fazendo comida, muita comida... eu lembro que eu e meu irmão não tinhamos cota restritiva de presentes de natal... a gente entrava na loja e escolhia quantos brinquedos quiséssemos... mas era diferente, não tinha tanta informação consumista como hoje. Eu lembro da toalha vermelha da mesa de jacarandá redonda da minha mãe (eu tenho essa toalha até hoje)... com os pés de leão. Eu lembro do corredor do prédio, com gente indo e vindo, música tocando, gente feliz. Eu acredito que meu desgosto pelo natal não venha dessa época... acho que vem depois dos 10 anos... já na separação conturbada dos meus pais. Foi muito complicado... meu pai fez muita maldade, deixou muitas sequelas. Hoje, eu quero apenas rezar. Agradecer a Deus pela minha vida, pela luz que lá do céu ilumina minha estrada... Eu quero agradecer pelos meus irmãos, que são minha maior riqueza, quero agradecer por eu ter uma mãe que nunca nos abandonou, que trabalhou em meio adversidades para alimentar os filhos que meu pai deixou exclusivamente à cargo dela. Eu quero agradecer pela saúde que nos brinda à vida, quero agradecer pela fé que eu sinto em Deus, quero agradecer minhas amizades verdadeiras, pois eu sei que tenho amigos que valem por um coração batendo... Quero agradecer por minhas lembranças, é muito bom ter a memória boa... Obrigada, Meu Deus! Obrigada por cada segundo de vida vivido. Quando eu páro pra pensar nisso, o Natal volta a ter importância... não o natal da televisão... não essa coisa mesquinha de gente que quer enfiar o punhal em você o ano todo, e só porque é natal, te deseja boas festas... Esse natal, eu desprezo. Eu falo de comunhão, de agradecimento, de fé, de corrente de amor. Natal precisa ser todo dia... Eu vou rezar. Vou rezar em agradecimento... E vou pedir apenas que continuemos todos com saúde... e que Deus tenha piedade com a alma de meu pai, pra que ele possa se encontrar com a luz que ele sempre desdenhou em vida. Enfim, que Deus dê a paz que cada um de nós procura. Afinal, a vida já me dá tudo que eu preciso. Fiquem bem, fiquem em paz, fiquem com o verdadeiro espírito de Natal. Fiquem com Deus.

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