terça-feira, 18 de junho de 2019

É uma ferida viva, que sangra todo santo dia.

Encontrei uma colega de trabalho na fábrica. Muito querida, uma fofa, que passou pela dor da perda de sua mãe há poucos meses. Ainda está no primeiro estágio do luto. Ainda tenta se adaptar com a falta que mãe lhe faz, ainda tenta se reconciliar com o buraco que vida lhe deu como uma das piores experiências que vida pode nos dar. A gente se encontrou por acaso de manhã cedo, quem sofre uma perda, sabe o sentimento que o outro sente. Abraço. Como isso é bom, terapêutico e tem um valor imensurável. Peito com peito... coração com coração. Essa amiga cuidou de sua mãe com amor e carinho... já tinha bastante tempo que ela corria de cima pra baixo com a mãe, hospitais, UPA´s. Eu acompanhava a lida pelas redes sociais, ou através de outras colegas que me davam notícias. Ela me disse que sua mãe havia morrido segurando a mão dela, e a mão de sua melhor amiga. Amiga de infância, que depois se tornou sua cunhada. Que lindo, que Graça essa senhora teve, de ter sua melhor amiga neste momento, e sua filha também ao seu lado. Meus olhos se encheram d'água... Que bom que Deus pôde proporcionar uma passagem serena, cheia de amor. Ela não teve medo, não estava só, estava em paz ao lado de pessoas que a amavam, em quem ela podia confiar. As amigas sempre disseram que ficariam juntas até o fim, e assim, aprouve Deus . Eu abracei novamente essa amiga, e disse que ela foi abençoada por ter tido a oportunidade de ser boa filha, de poder ter acompanhado a passagem de sua mãezinha, e que ainda tinha a companhia da tia, e melhor amiga de sua mãe. Essa oportunidade de despedida, eu não tive. Esse direito, me foi negado. Eu não pude me despedir do meu irmão. Esse direito natural  me foi extirpado por egoísmo e crueldade. Eu nunca vou me refazer dessa pancada que recebi. Nunca vou perdoar. Nunca vou esquecer, porque é uma dor que dói todos os dias... é uma ferida viva, que sangra todo santo dia. Ninguém em sã consciência, tinha esse direito. Ninguém! Nunca vi isso. Nunca poderia imaginar que pudessem fazer uma coisa tão bizarra assim. Nunca vou me conformar. Nunca, jamais! É um filme de terror que se repete a cada madrugada, uma tragédia mexicana, que por muitos meses, eu tive vergonha de expôr. Mas não fui eu quem cometeu essa maldade, esse desatino. Não fui eu quem cometeu esse crime. Não fui eu quem brecou a despedida de um ente tão querido em seu último adeus. Eu não fiz essa crueldade com ninguém... Não sou capaz de tamanha mesquinhez, pequenez de alma. Eu preciso ter pena dessa alma sem luz que fez isso comigo e com minha família. Mas infelizmente, não consigo. Impossível esquecer e passar por cima, porque meu irmão era, e é importante demais para que eu passe por cima de um sentimento tão forte, um direito meu. É um ressentimento inexorável, impossível de ser resgatado, indelével, não tem como ser compensado, e por essa razão, indigno de ser perdoado. Não há restituição a esse direito. Eu aguardo apenas a justiça de Deus. Eu confio que Deus tem o olho que tudo vê, e que dará à escória, um julgamento justo. Eu já estou condenada a viver cada dia sem o direito a minha despedida, vivo com as lembranças, catando meus caquinhos, tentando me agarrar às minhas memórias, a tudo que eu vivi com meu querido irmãozinho caçula, meu bebê, meu manequinho, meu Waltinho. Que nunca foi deixado de lado. Meu irmão foi amado e cuidado. Waltinho sempre soube que podia contar com a irmã mais velha dele... Waltinho sempre soube que tinha um porto seguro, um refúgio, um lugar pra voltar. Ahhh, se ele tivesse forças. Eu fico aqui com minha dor, eu convivo com a falta que ele me faz, com o adeus que não pude dar. Apenas quem já sofreu essa dor, saberá o que sinto. Apenas quem teve seu direito mutilado, vai saber o que passa no meu coração. Para quem não consegue imaginar o que sinto, coloque-se por 2 minutos em meu lugar. Imagine que você não pôde se despedir de um irmão, ou se você é mãe, imagine, não poder se despedir de um filho... por puro egoísmo, crueldade, calhordice, por gente que não vale nem a merda que caga... Te garanto que não é fácil. Sinto ânsia de vômito... Nem o tempo, nem remedinho, nem toda a terapia do mundo, pode amenizar a dor que grita dentro de mim. Não encontro palavras nesse mundo pra descrever o que sinto sobre isso. Mas tudo que vai... um dia volta. O que se planta, se colhe. Eu quero justiça.

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