domingo, 2 de junho de 2019

Falta tudo, nada mais é igual.

Um dia desses, atravessando a  rua eu vi um "caidinho" igual ao seu, meu irmãozinho. Aquele carrinho quadradinho que eu te ajudei a comprar. Seu carrinho quadrado que em algumas vezes foi seu lar... seu refúgio, seu quarto, nas horas que você precisava fugir do demônio que te atormentava anos a fio... Claro que eu comprei o carro pra você. Fiz o empréstimo no dia do seu aniversário. Eu gostaria de ter feito mais... muito mais, mas eu não pude. Fiz o que estava ao meu alcance. Você sempre soube que podia contar comigo, até o  meu limite mais longínquo. Eu nunca te deixei na mão. Você sempre foi o meu irmãozinho, meu manequinho, a minha maior herança, meu maior tesouro e a melhor parte de mim. Isso me afaga. Graças a Deus, eu fiz o que pude para te dar alegria, pra te dar o conforto que nunca jogou na cara. Fiz o que pude, com amor e faria muito mais ainda. Meu bebê, meu irmão, meu menino malcriado, que nem sempre estava por perto - fisicamente - mas que nunca ficou longe do meu coração, da minha vida, das minhas histórias... memórias. Eu ainda sinto a mesma saudade, desde o último dia que te vi com vida, antes que a maldade, te levasse pra longe de nós. Eu, nossa mãe, nossa família, nossos amigos, que não tivemos o direito de dizer adeus. Eu nunca vou me conformar, não foi só a morte, foi tudo, toda a história escrota, que a escrota nos brindou. Deixou marcado! Gente ruim tem em todo canto... só não sabia que estava tão perto de mim. Perto de nós. Crueldade, é a palavra pra descrever o fim da sua vida, da nossa história. E ainda tem gente que se faz de vítima. Eu sei que dói... dói demais em mim, tem um buraco que arde, vivo, aqui no meu peito. Falam as bocas, que o tempo faz passar... risos, risos... essa gente não sabe o que fala. A saudade cresce, cresce tanto que transborda, afoga os dias... não tem essa de diminuir... nem se acostumar... balela... palhaçada de gente que nunca perdeu a quem se ama... ainda mais da forma que nós perdemos você. História feia de se contar... ter vivido isso, então... putz... beira a podridão humana. Escória! Nunca ouvi uma história dessas, até o momento que vivi, senti na pela a falta do adeus, aquele momento que nunca imaginei passar... e não passei. Foi pior. Não acreditar nessa realidade árdua. Dói, dói demais e nada poderá doer mais que isso. Foi o pior que poderia ter me acontecido, a dor mais doída, mais lancinante, fatal. Sou morta viva. Falta um pedaço de mim que não sei explicar, só dói... dói demais que depois desse tempo todo, ainda arde, pulsa, um dor que sabe como se fazer presente, 24 horas do dia. Não sei até quando essa ardência vai latejar... ninguém me explica... quem disse que passa, não conhece que dor é essa. Falta alegria no viver, dias sempre nublados, a tristeza consegue apagar a força do sol. Falta o que não dá pra repor. Falta você, meu irmão. Falta a sua presença, sua risada, sua alegria quando falava comigo. Falta tudo, nada mais é igual. Depois de tudo, só sei que ao atravessar a rua, vi um quadradinho igual ao seu... a última vez que vi aquele que te dei... ele estava cabisbaixo, pneus arriados, empoeirado e solitário. Também com saudade do dono, que nunca mais veria. Não dá pra não lembrar... não tem como esquecer... então, eu transbordo mais uma vez.


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