segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Ninguém deveria enterrar quem viu nascer.

Ontem, meu irmão, fez 1 ano que eu estive com você, ainda com alguma "saúde" se é que posso falar em saúde. Ontem fez 1 ano que você esteve com sua família, aqui, em minha casa, no nosso Rio de Janeiro, onde seus tios e amigos puderam te abraçar, onde eu e nossa mãe pudemos cuidar de você, cozinhar pra você e te dar um beijo de boa noite na hora de dormir. Ontem eu me senti tão só. Ontem foi um dia tão difícil pra mim, que não consegui parar de pensar em você, mesmo fazendo outras atividades. Pensei em tanta coisa que agora me atrapalho em tentar colocá-las em ordem... são tantos sentimentos, tantas lembranças, saudades, tudo que vivemos e passamos em toda nossa vida, meu irmão. Não, eu não estou bem, acredito que NUNCA MAIS ficarei bem, porque fui roubada, fui dilacerada, estou mutilada para o resto dessa vida. Me falta um pedaço, Waltinho. Ontem estava numa estrada, dirigindo durante quase 3 horas, e já estava bem de noite... estrada escura, mas até que bem sinalizada. E eu me senti tão só, tão solitária, tão perdida no mundo, sem horizonte, sem esperança, tão órfã de você. Agora eu só tenho nossa mãe e o Victor. Não tenho mais você, Waltinho, que mesmo tendo escolhido sua vida e morando longe, eu sabia que eu tinha você. Eu sabia que você fazia parte da minha história, eu sabia que tinha um irmão que dividiu comigo minha infância, minha juventude, minha vida adulta. E agora tenho o desespero, a saudade, e a sua falta constante em minha vida. Ontem eu senti muito mais que saudade, muito mais que tristeza, eu senti um vazio enorme dentro de mim, ao meu redor, um vazio imenso, o mundo inteiro estava envolta de uma pessoa que se sentia sozinha no mundo. Ninguém deveria enterrar quem viu nascer. Ninguém nesse mundo merece passar por uma experiência dessas, porque é inimaginável o sentimento que aperta no peito. Só quem perdeu alguém a quem ama muito, verdadeiramente e mais que a si mesmo, sabe a dor dessa perda. Só quem sofre mais que eu é nossa mãe, que te carregou na barriga por 9 meses, e no colo por alguns anos. Que te alimentou, te cuidou... Só uma mãe que perdeu um filho, pode entender a dor de uma irmã que perdeu seu caçula, que o recebeu em sua vida ainda criança, e que cresceu, dia após dia do lado desse irmão. Depois do amor entre pais e filhos, o maior amor é de irmão e irmã. Um amor que nasceu da união dos pais;   filhos que nasceram da mesma fôrma, e foram criados juntos, dormindo, acordando e aprendendo o que é a vida. Aprenderam a andar juntos, a correr, a brincar, a brigar, a se defender e se proteger dos perigos da vida. Amor de irmãos, isso eu tive, tenho e posso garantir que é o meu maior tesouro. Nada na minha vida é mais importante que esse amor, principalmente, porque eu não tenho filhos, eu só tenho irmãos, dois irmãos e um deles, já não está mais aqui. Então eu me sinto sem chão, sem horizonte, falta realmente uma metade grande de mim. Não precisava estar comigo 24 horas, não precisava... só precisava saber que se eu precisasse, poderia contar pra você o que eu sentia, meus erros, meus segredos, as minhas merdas... e que você me escutaria, diria qualquer coisa que me fizesse rir, e agora, meu primeiro amigo, meu irmão, minha maior herança se foi antes de mim. Ninguém deveria enterrar quem viu nascer, repito: ninguém deveria enterrar quem viu nascer! E ontem fez 1 ano que estivemos juntos, eu, você, nossa mãe, nosso irmão, nossos tios e os amigos que fizemos juntos em nossa infância. Doeu, dói e vai doer pra sempre, porque eu não vou ter como recomeçar sem você, vou ter que aprender a viver com esse buraco que ficou oco, com esse eco de saudade que jamais será preenchido. Estou me sentindo órfã de irmão, estou me sentindo solitária e preciso mais que nunca da presença da nossa mãe e da nossa família pra me sentir menos amputada... Ainda estou esperando os filhos da puta que falam que o tempo ameniza a dor... Cadê esse povo que só fala besteira? Eles não amam de verdade, Waltinho, eles não tem a amizade, o amor e a cumplicidade de irmãos que sempre tivemos. Estou me tornando intolerante com quem não entende a minha dor. Não preciso que me adulem, não preciso que me peguem no colo... Só preciso que respeitem a porra da saudade que eu sinto de você. Me deixem quieta, me deixem com meus pensamentos... Não estou pedindo licença pra ninguém porque essa dor é minha e vou senti-la até morrer. Eu não desejo nem para os meus piores inimigos (se é que eles sabem o que é amar alguém) sentir o desalento dessa saudade que vai cortando dia-a-dia, devagar como um conta-gotas, a alma de quem ama. Tem dias que é ruim... Tem dias que é pior ainda, e ontem foi um dia desses... hoje também.

 Walter Sieczko dos Santos
Andreia Sieczko dos Santos

Para sempre, irmãos!

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