Era assim, meu irmão... o tempo todo assim...
A gente falava tanta besteira e brincávamos como se ainda fôssemos
crianças. Somos crianças ainda, Waltinho – perante Deus, perante nossa mãe e
perante nós mesmos. Não havia tempo ruim... até as brigas eram engraçadas. Quantas
piadas recontadas com gargalhadas novas... as caretas que nós fazíamos um para
o outro, e coisas que só nós dois entendíamos – e mais ninguém.
Porque ninguém mais que eu, viveu a tua meninice... e ninguém mais que
você, viveu comigo a minha infância e mocidade. Isso ninguém tira de mim, ninguém
tira de nós, nem mesmo o tempo pode apagar o que vivemos, pois vivenciamos
empiricamente, juntos, a melhor fase da vida de qualquer ser humano. Isso faz de nós, irmãos; isso nos faz únicos, a cumplicidade nos tornou
parceiros da vida, e esse amor, esse contato, esse laço afetivo, a gente
carrega até no pós morte. Se perpetua na vida após vida. É por causa desse
sentimento ( da falta da continuidade desse sentimento ) que eu sinto tanto sua
falta, meu irmão. Não é que eu não queira aceitar sua partida... eu sei que
você se foi... eu sei que o que te matou, quem te matou, eu tenho consciência
da tua morte. Mas eu não consigo acreditar que meu pequenininho, meu irmãozinho,
meu manequinho foi embora antes de mim... Meu irmão lindo, menino com um
coração enorme, que sempre tentava se fazer de durão, mas que sempre foi
bonzinho, que fazia bolo de limão com a mamãe enquanto eu botava fogo no
mundo... Que tinha como único vício, a paixão pela Televisão; que se bastava
com um 1 litro de Mineirinho e biscoito Mabel... ou então um joelho de queijo e
presunto... que adorava o pão com manteiga picadinho misturado num copo de café
com leite... Que já rapaz, gostava de brincar de forte apache, que era
escoteiro no 11º Grupo na Central do Brasil... menino preguiçoso que não
gostava de estudar, mas que nem isso o fazia menos inteligente. Meu irmãozinho
sempre foi um menino bom, nunca se meteu em loucuras, era calmo e o mais lindo
de tudo isso, foi saber depois de sua morte, que sempre foi um rapaz
respeitador com suas namoradas. Muitas namoradas dele, compareceram à missa de
7º dia, e nas missas subsequentes. Minhas eternas cunhadas, pessoas que fizeram
parte da nossa vida e que ainda hoje, nos abraçam em meio a nossa dor. Waltinho
era cuidadoso com as namoradas, nunca as deixava voltar sozinhas pra casa, e
sempre foi muito querido pelas sogras. As tratavam com muito pudor, e se
manteve amigos de todas as namoradinhas de sua infância até o dia de sua
partida. Saber delas como meu irmão se comportava como “namorado”, me encheu de
orgulho desse menino. Além de lindo, sempre foi educado com as adolescentes da época.
A saudade que sinto, é por não tê-lo ao alcance do meu abraço, é pela
incapacidade que eu tenho de ligar para o céu e ter meia hora de prosa com ele.
Saber como vai a vida após a vida, queria saber se no céu tem chocolate, se tem
televisão, se ele encontrou nossa família espiritual e nossos amigos que já partiram,
queria ouvir alguma piada, sua gargalhada, se encontrou nossos cachorros, se
descobriu qual era sua missão, e que me sacaneasse dizendo que estaria
esperando por todos nós (risos). Queria sentir o cheirinho de sabonete Phebo na
sua cabeça, dizer mais uma vez o quanto eu te amo e ver a sua cara de quem não
está ligando para o que está ouvindo (enquanto eu falo que te amo), mas sempre
com aquele sorrisinho de lado, que sabe que a
irmã o ama mais que tudo nessa vida.
Andreia
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