quinta-feira, 17 de maio de 2018

“...Que se assente ele, sozinho, e fique calado...”. Lm. 3:28 - Carlos Moreira

“...Que se assente ele, sozinho, e fique calado...”. Lm. 3:28

Quando a tragédia nos abate nós queremos respostas, queremos que investiguem, que uma explicação plausível possa ser apresentada. Por que comigo? No dia da angústia queremos saber de todas as razões, queremos que Deus fale conosco, nos apresente seus motivos. Mas Deus não é o Google! Ele não tem que lhe responder nada, não está obrigado a prestar qualquer tipo de informação ou esclarecimento. A Escritura ensina que o melhor a fazer em meio a calamidade é calar. Foi isso que fez Jeremias, autor da frase acima, em meio aos destroços de uma Jerusalém destruída, mortos em todos os lugares, mães que, em desespero, comeram seus próprios filhos. E o profeta vê aquilo, lembra da bondade de Deus, acha tudo inexplicável, sem sentido, sem razão, e fica calado. O silêncio produz reverência pela dor, quem se cala se rende, admite que não é “por força nem por violência, mas pelo meu Espírito”. Sim, calar e contemplar o que sucede é o melhor a fazer, a estupefação do vitimado, diante da tela na qual está expressa a tragédia da vida, é de uma beleza ímpar, mas nem todos podem ver... De certo, murmurar não resolve, se lastimar é coisa de quem não entendeu que a existência é feita de estações, em algum momento, o sofrimento vai nos encontrar, como bem disse o poeta “Vida que vai na sela dessas dores”. O silêncio é bom companheiro nas horas difíceis, ao depois, produzirá frutos de esperança. Jó fez de seu desastre pessoal um palco para declamar as suas inquietações, dias depois, todavia, afirmou “Falei do que não conhecia, coisas maravilhosas para mim”. O Salmista afirma “Ele é o teu louvor e o teu Deus, que te fez essas grandes e temíveis coisas, que os teus olhos têm visto”. Se você crê, então espere o livramento, a misericórdia há de brotar como o sol de cada manhã, aquele que conspira a seu favor fará com que o fel da maldade se converta em mel e doçura para o coração, nunca vi ninguém que ama a Deus não tragar da calamidade gotas de orvalho para o chão onde a alma se assenta, o unguento do socorro chegará, mais dias, menos dias. Para, portanto, com tua verborragia, fique em silêncio, como bem diz Jeremias, no verso 29 do capítulo citado, “Talvez ainda haja esperança”. Decerto, eu creio, sua bondade ainda há de nos alcançar.


Texto de Carlos Moreira


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui sua mensagem