sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Entrega ao vazio


Naquele espelho quebrado ela pôde ver o que sobrara de seu rosto... sua avó sempre lhe dizia que o rosto era a porta de entrada para a alma. Por isso, ao se olhar, ela sabia que sua alma estava tão alquebrantada como o espelho a sua frente, que refletia o mínimo para mostrar as pessoas que ainda era um ser vivo. Ela estava infeliz... profunda e terrivelmente infeliz com seu próprio sentimento. Ela não tinha mais um amor para amar... Simplesmente exauriu-se da fonte da vida, despejou seus motivos de alegria, riscou de sua existência, o amor. Ficou tão seca, que não se aguentava em pé. Viver para ela era apenas o pulsar de um coração batendo a árduas marretadas... Respirar, doía-lhe na carne... Toda a dor, era resultado de um amor imperfeito, ou melhor dizendo, mais que imperfeito; era a conclusão de um estado onde o vácuo e o silêncio ocupavam o espaço que antes era fecundo de prazer e emoção. Era a impossibilidade de ser vivido. Ela entregou-se ao vazio... vazio da alma. Se não podia amar a quem escolhera, não queria amar a mais ninguém. Nada lhe satisfazia e aos poucos seu corpo encurvava encarquilhado, num imenso desejo de entrar pra dentro de si mesmo... a cabeça baixa, olhando sempre em direção ao seu umbigo. Cada dia que passava, diminuía a possibilidade de posicionar-se ereta em direção do horizonte. No fim dos seus dias, ela nada mais era, que uma pequena semente ambulante, perambulando nas esquinas da vida.

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