segunda-feira, 22 de maio de 2017

Mais ainda um pouco daquele dia bom...

Então, irmãozinho, fui atrás de mais memórias, na minha busca incessante e infinita de me sentir próxima da vida que compartimos juntos em nossa infância. Descobri mais 2 fotografias amareladas pelo tempo, mas que trouxeram ainda aquele gosto do cloro, das nossas brincadeiras no clube bacana, dia que tive recuperado em minhas lembranças. Eu, você e nossa mãe. Olha que fofo, mamãe me pediu para fazer algum passo de balé clássico - o que deveria ser um luxo muito grande, e um esforço que ela fazia para que eu tivesse acesso à esta oportunidade de ser bailarina aos 11 anos de idade. Ela se colocou a alguns passos atrás, para tirar essa fotografia e eu comecei a pular em meus passos de ballet. Você ali na cena:  olhando a irmãzinha tentando voar que nem borboleta, como se a saia de tule rosado fossem asas capazes de realmente me fazer voar.



Essa bolsa que você segura na foto acima, durante muito tempo foi nossa companheira de aventuras que nossa mãe inventava para nos divertir e que com certeza, fez parte de muitas memórias. Não tínhamos dinheiro para programas legais e caros; mas nem por isso, deixamos de fazer programas recreativos e sempre pitorescos e jocosos. Imagino hoje, quando vejo alguma colega de trabalho mais jovem, com menos de 30 anos, fazendo o papel de pai e mãe de seus filhos, o que nossa mãe passou para nos criar. Sem dinheiro, sem a pouca pensão que nosso pai nunca pagava (70% de um salário mínimo para os 2 filhos), nossa mãe trabalhando como estagiária e estudando à noite, no curso OBERG. deve ter sido muito difícil, meu irmão. Não deve ter sido nem um pouco fácil para ela nos sustentar em meio à tanta privação.  Eu com 45 anos hoje, não me sentiria capaz de fazer o que ela fez. Por isso talvez, ela carregue um QUÊ de amargura no peito. Não deve ter sido fácil criar com tão pouco dinheiro, 2 filhos entrando na "aborrescência". Mas à época, não tínhamos condições de entender o excesso de FALTA DE TUDO. Graças a Deus nossa mãe tinha juventude e saúde... e uma boa dose de criatividade para arrumar as atividades que fazíamos juntos, como fazer caminhadas no Parque da Cidade, trilhas na Floresta da Tijuca e como sempre fazíamos também, nosso programa mais comum e um dos prediletos, era irmos andando pela Av. Chile até a estação dos Bondinhos de Santa Tereza, atrás da antiga sede da Petrobrás;  nossa mãe comprava sorvete de casquinha, um pra mim, e um pra você. Pegávamos então o bondinho sentido Silvestre... e nosso passeio então se tornava uma grande aventura. Muitas vezes, subimos o Cristo Redentor a pé, se lembra dessas caminhadas?  
Vamos relembrar em uma próxima postagem  sobre esses passeios. É que como eu já comentei com você, irmão, conforme vou vendo fotos, vou lembrando fatos, e tudo vem à tona... minhas memórias transbordam da mente, Graças a Deus! Obrigada, mãe, pelos sanduíches de bisnaga com margarina e de vez em quando, mortadela! Eu hoje reconheço o esforço que deve ter sido para uma mãe tão jovem e sem nenhum suporte. Mas voltando ao dia do clube bacana, o Marapendi, nossa mãe ganhou um convite para passarmos o dia lá... saímos da pobreza de Vigário Geral e acredito que tenhamos andando muito de ônibus até chegar à Barra. Clube bonito, grande e chique na época. Dentro da bolsa verde de quartel, que você estava segurando, Waltinho, deveria ter com certeza algum biscoito e algum sanduíche, com certeza alguma garrafinha de água (embora não consiga me lembrar se nesta época, já tínhamos geladeira em casa - porque quando fomos sobreviver lá, não tínhamos uma geladeira em casa, pegávamos todos os dias depois de voltarmos da escola, uma garrafa de água congelada na casa da vizinha, dona Marta, que olhava de vez em quando às crianças que ficavam sozinhas durante o dia, na casa geminada, de teto de forro, pintado de verde...). Dentro da bolsa de quartel, verde-oliva, mamãe deve ter levado minha roupa de Ballet... a nossa máquina Xereta da Kodak, alguma peça de roupa, acredito que já tivéssemos com biquíni e sunga por baixo da roupa, deveria ter também uma toalha pra gente dividir entre os 3, pra se enxugar. Embora os dias tenham sido difíceis, tenho como lembranças, os melhores momentos da nossas vidas. Nossa infância, nossa vida juntos, nós 3. Tudo bem que não precisava ter sido tão difícil, mas eu e você não tínhamos noção das provações que passamos com nossa mãe, e para nós dois, tudo era motivo de brincadeiras, afinal, éramos crianças. Eu tenho todas essas memórias guardadas com muito carinho. Eu sou a guardiã das nossas fotos, eu sou expectadora ativa e apaixonada pelas lembranças da nossa infância. Eu só tenho a agradecer a Deus, por nossa vida, por nossas experiências e pela mãe que não desistiu da gente. Mesmo com tantos problemas, mesmo sem recursos, estivemos juntos e crescemos juntos, nós 3.
Nina Celia Sieczko
Andreia Sieczko dos Santos
Walter Sieczko dos Santos

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