Ensaio sobre a Despedida, by Andréia Sieczko
Gasômetro da CEG
Lembranças... o que é a
vida, senão uma coleção de lembranças???
Pelo sentimento que nos
remete, quando a realidade se faz verdade, cenário de tantos sonhos, cenário de
vida real... pano de fundo de tantas histórias. Símbolo colossal do início de
uma grande era, a modernidade... fábrica do gás. Desde o início do século
passado, rasgando o céu altivo, e por muitos anos, considerado o maior
gasômetro do mundo, mas que cabe dentro do coração de cada um de nós, o
eternizamos ao escrever a história, não só de nossas vidas, mas também, fez-se
personagem principal da vida política do nosso país, sobrevivendo a planos secretos; foi ícone de uma ideologia que durante anos,
gerou clima de tensão.
Absoluto, transcendeu em sua magnitude, sendo um norte
para quem chegava à região. Durante décadas, foi a testemunha silenciosa de
tantas narrativas, crônicas da vida real. Início de vidas profissionais,
pessoais, vitórias, alegrias, tristezas, fim... Cada um tem uma história sua
pra contar... e ele, preconiza em si, todas essas histórias, concentradas em
infinitos metros cúbicos... subindo e
descendo... e refazendo-se dia a dia, e levando ao infinito todas as conquistas
de nossas vidas. Gasômetro, personificação de tantas emoções. Quem o viveu,
conhece exatamente a singular estrutura de sentidos e significados, com seu
status majestoso, fica difícil não entender, o desafio de querer tê-lo,
imortal.
Dói no peito... mas é impossível prevenir e reverter a temporalidade.
Um vazio, desmontando nossas histórias diante de nós. Certa indiferença de
alguns rumo ao progresso, atravessam minhas memórias, como se fossem violadas.
Essa ruptura, na ordem que visa o novo, contradiz a incompletude, como se
pudesse ser adiada indefinidamente. E o que já foi novidade, agora, jaz
obsoleto diante de tantas novas possibilidades.
O que já foi profícuo, hoje
para muitos é apenas um espaço, a dar espaço à abertura de novos caminhos. Mas
para outros na insuperável iminência da ausência, o gigante não estará mais
presente.
Mas como é dito, o que é a vida, senão uma coleção de lembranças? Seu
desfecho, descomunal, um quê de orgulho e tristeza, nossa despedida a cada dia
ao ver despedaçar-se uma tradição
histórica, a fenecer um pedaço de nós.
E como cena final de um grande
espetáculo, à ele cabe nossos aplausos.
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