sexta-feira, 14 de abril de 2017

Sexta-Feira Santa - Procissão da Paixão de Cristo - 14/04/2017

Meu irmão, meu amado irmão Walter Sieczko dos Santos, eu precisei muito dessa quaresma, precisei assim como o ar que respiro. Eu estou em oração desde antes de descobrirmos a doença que te levou. Não sei, algo me dizia que tempos difíceis iriam chegar... eu só não imaginava que ia perder você, meu irmão.
Tem sido muito difícil acreditar que você não caminha mais neste mundo. Não consigo acreditar que você se foi, que vive agora em outro plano.  Eu não me revolto, mas é difícil acreditar. Eu precisava de algo que simbolizasse essa despedida. Eu não tive o direito de te carregar, nem de cantar pra você. Talvez eu nunca me recupere da falta dessa despedida. Como eu te amo, meu irmão! A quaresma me ofereceu a introspecção necessária, para que com as orações e a fé no grande mistério da vida, eu possa digerir toda essa falta que você vai fazer pra sempre, enquanto eu viver nesta terra. Jesus foi tentado, traído, condenado, torturado, humilhado, crucificado e morto. Foi sepultado. Sua mãe chorou e sofreu com  a agonia prolongada de todo esse suplício. Até que José de Arimatéia pedisse para sepultar o corpo do Cristo.   
E assim o fez. Nossa Senhora sentiu todo o sofrimento de Jesus. Pegou seu filho amado nos braços, figura lindíssima de Pietá. Com toda sua dor, pôde sepultar seu filho. Eu participei da procissão, meu irmãozinho! Eu beijei os pés de Cristo crucificado, pedindo a Ele, que o tenha em seu reino. Deus é Contigo! A missa foi linda e me emocionou muito. Nunca antes eu tinha sentido tão profundamente a importância do amor da Paixão de Cristo. A vida ensina, meu irmão... a vida segue seu rumo, sempre nos ensinando o caminho que devemos seguir. Quem dera, pudéssemos entender esse mistério pelo amor e não pela dor! Chorei... chorei muito, de amor, chorei de saudade, chorei de dó que tenho por essa nossa própria humanidade. Somos todos tão orgulhosos e imperfeitos. E Deus amou tanto a humanidade, que deu em holocausto seu filho único e amado, em suplício, para que nós - um bando de gente egoísta e imperfeita - fôssemos salvos. É difícil entender os desígnios de Deus, Waltinho... eu mesma, em minha infinita pequenez, não entendo... eu busco, procuro, medito, estudo, rezo, peço... mas sou incapaz de entender os propósitos de Deus. Talvez seja uma coisa tão simples... mas que meus olhos humanos não alcançam esse entendimento. Assim, eu, sua irmã, às vezes me ouso a questionar a grandeza de Deus... não chega a ser blasfêmia, porque eu amo a Deus acima de qualquer coisa e o respeito com minha própria existência. Mas sei que sou filha amada, e como filha, tenho intimidade para questionar o que eu não sou capaz de entender. Deus pacientemente me acolhe, mesmo eu continuando a não entender... Ele acalma minha dor, e balsamiza meu coração. Eu sei que um dia terei essas respostas, eu sei que um dia estarei na presença de Jesus, serei acolhida por nossa Mãezinha do Céu... Nossa Senhora, mãe de todas a mães. Eu tive o privilégio de carregar Nossa Senhora das Dores!!! Eu não larguei o andor. Eu senti um pouquinho do peso da dor de Nossa Senhora. Não que eu seja capaz de suportar a dor que Ela suportou... não, não é isso, eu não tenho a pureza e a divindade desta Santa Mulher que foi escolhida para ser a mãe de Jesus. Longe de mim achar isso. Mas eu me senti tão acolhida, tão abraçada por Ela... Não consegui conter a emoção que Nossa Senhora das Dores me proporcionou. E em toda a caminhada, nesta procissão, eu senti você perto de mim, meu irmão! Deus me regalou o presente de te sentir. Eu precisava sentir! O Jeffrey King me auxiliou, me deu as forças necessárias para aguentar o peso terreno da imagem da Santa em cima do andor. Como eu agradeço! Eu só tenho a agradecer! Deus me ouve e fala comigo! Deus me ama, assim como ama você. A procissão para mim teve um significado muito especial! Deus me deu você de novo, para que eu pudesse te carregar, para que eu pudesse seguir adiante, para que eu consiga suportar a falta que seu funeral fez a mim. Te carreguei pela última vez, meditando nas lágrimas da sua mãe, na primeira vez que te peguei no colo quando você chegou da maternidade nos braços dela e ela te deu a mim. Eu precisava deste ritual, e Deus sabia disso. Deus sabe de tudo, Ele conhece a todos nós! Acho que nossa mãe também precisava desse culto. Deu alívio, a mim e a ela. Afinal, antes mesmo de eu ganhar você, você já vivia dentro dela. Você só nasceu porque nossos pais nasceram antes. Alguém antes de mim, já amava você, já cuidava de você, alimentou você. Essa coisa de mãe é coisa muito séria. Com amor de mãe, não se brinca! Embora algo me diga que já fui também a sua mãe em outra encarnação, eu fico satisfeita de ter vindo sua irmã nesta existência. O amor nunca morre, meu irmão! O amor é o sentimento mais forte que existe, desde o primeiro dia que Deus resolveu criar o céu e a terra, criar o dia e a noite, os mares, as florestas, o homem e a mulher, para que fossem soberanos sobre a terra. Todo esse amor, veio na figura de Maria, Nossa Senhora... Toda mulher tem em si, um pouco de Maria. É com esse amor que eu amo você, Waltinho! Foram passos de dor, luta, paixão, despedida... 

Waltinho, sinta meu amor, sinta meu carinho. Esteja bem, por favor! A Cema deve estar com você, eu sinto que ela está. Nossa família que já partiu, nossos amigos espirituais... eu tenho certeza que estão cuidando de você. Hoje talvez você tenha mais compreensão do que eu, você deve saber que as coisas acontecem porque tem algum motivo de acontecer. Apenas peço que sinta a minha energia, que escute as minhas preces pra você e para nós. Sinto muita saudade de conversar com você. 
 Jesus Cristo, Senhor nosso, tende misericórdia de nós! 

Eu precisava participar, eu precisava carregar minha própria dor, eu senti uma presença divina. Hoje ainda sinto a dor dessa presença em meus ombros, e a sinto com grande prazer. Foi muito importante pra mim, irmão.


Com você, sempre no meu coração!

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