quarta-feira, 28 de junho de 2017

Como sobreviver a perda de um irmão? Não sei a resposta - Café da manhã em junho 2016

Saber sobre o câncer foi um soco no estômago, Waltinho. Nunca em nossa família, nem por parte de pai, nem por parte de mãe, tivemos a notícia de algum parente com essa triste doença. Eu jamais pensei que fosse perder meu irmão para essa enfermidade. Pra mim, no máximo, seria uma fase difícil, complicada. Nunca perdi as minhas esperanças. Meu irmão sempre foi um menino forte, guerreiro, positivo, nunca pensei fôssemos perdê-lo tão cedo. Eu sei que vou viver essa dor por muito tempo, muito provavelmente pela vida inteira. Saber que você não está há 2h 1/2 de avião, me causa um sentimento angustiante. Mesmo eu sabendo que Deus tem um propósito na vida de cada um de nós, me dói incrivelmente pela incapacidade de receber seu feedback. No mês de junho de 2016 estivemos juntos novamente, e essas são mais lembranças que eu tenho para reviver você. Cada pedacinho da nossa história, cada centímetro do que vivenciamos juntos, está tudo perfeitamente acondicionado em caixinhas de lembranças, tanto na minha cabeça, quanto no blog. Eu não quero perder nenhuma lembrança nossa. Eu lembro que neste dia, você sentiu um pouco de dor, desconforto por conta do tratamento, mas eu sei que você estava "felizinho" porque estávamos juntos, não se deixou abater, porque queria aproveitar essa oportunidade. Foram momentos memoráveis na piscina, contando piadas, causos, tenho muitos vídeos desse dia... comemos peixe agulha e trilha, tomamos suco de graviola, que aprendi a gostar com você; nesse dia, eu jamais poderia imaginar que 1 ano depois você não estaria mais aqui. Que tristeza perder um irmão, Waltinho. Que tristeza é perder alguém que se ama tanto. Meu primeiro amigo, meu manequinho que recebi nos braços assim que chegou em casa da maternidade. Todo embrulhadinho, todo cor de rosa, tão pequenininho. Meu irmão! Meu! Só meu irmão. Durante 14 anos meu único irmão, até a chegada do Victor. Eu nunca tive ciúmes de você, porque nunca tive a necessidade de disputar com ninguém o espaço de outro filho, porque eu tinha você como meu. Você veio para ser um presente pra mim. E foi. E ainda é. A separação física, nunca foi empecilho para mim, e ainda que me doa não ouvir mais sua voz no celular, eu ainda te escuto nos áudios, vídeos e também nos meus sonhos. Todas essas lembranças não estão em nenhum cantinho da casa, todas essas lembranças, estão vivas comigo, ocupando um espaço enoooorme no meu coração e assim eu te mantenho vivo e aquecido no meu peito. Adorava conversar com você durante seus azimutes de fuga de manhã bem cedo, naquela sua padaria favorita. Era uma hora sagrada, eu e você e nossas conversas. Adorava tomar café da manhã pelo celular com você. Quanta saudade, Waltinho. Tenho tanta coisa para escrever de nós. Mas eu prefiro ir relembrando devagarzinho, faz parte do pactuado, exaurir lentamente essa dor que me corrói, essa nostalgia, esse desalento, esse pesar, uma saudade sem fim, que nunca vai desaparecer por completo. A vida está incompleta, isso sim. O tempo vai passar, mas essa dor da perda vai continuar latejando, porque amor de irmão não se substitui, não se esvanece, ninguém troca de irmão porque se enfadou, ninguém permuta um irmão por outro ou por qualquer outro adjetivo afetivo. Irmão é irmão e pra sempre vai ser irmão. Talvez existam irmãos que não sejam como nós, eu conheço irmãos que não se amam, que vivem em eterna competição, sei lá. Graças a Deus nunca estivemos dentro desse espectro. Você pra mim sempre foi perfeito, nunca teve defeitos. Você era o suficiente apenas por existir, por ter sido meu primeiro amigo, meu sangue, meu maior tesouro, a melhor herança que eu poderia ganhar dos nossos pais. Você é a melhor parte de mim, Waltinho e me entristece profundamente saber que minha melhor parte não está aqui nesse mundo. Por consequência, parte de mim também morreu com você. E por essa razão, fica impossível meu refazimento. Nunca mais serei 100%. Parece que fui roubada do meu passado, e meu futuro não tem mais a perspectiva da tua presença, de dividir  novos momentos com você. Como serão então as minhas memórias? Sempre vai existir a sua falta... Como seria se meu irmão estivesse aqui? Será que o Waltinho ia gostar disso ou daquilo, será que o Waltinho ia gostar dessa nova receita, dessa comidinha gostosa, feita com carinho? Com certeza Waltinho iria gostar desse filme de guerra...  São tantas interrogações sobre meu futuro. Sabe o que me peguei pensando esses dias? Eu não vou ver meu lindo irmão envelhecer, não vou tê-lo ao meu lado na hora de eu fechar meus olhos para nunca mais abrir. Não vou poder pescar numa praia no final de tarde, não vamos fazer porcarias mostrando um a dentadura para o outro - porque com certeza as porcarias de crianças seriam atualizadas para as porcarias da terceira idade - reclamaríamos das dores da velhice, e das dores dos joelhos, não vou poder sacanear você, ou você a mim, quando o primeiro de nós usasse fraldas geriátricas, kkkkkkkkkk seria muito engraçado. Irmãos tem que ser assim, pra toda vida, ainda que não seja. Você, Walter Sieczko dos Santos, meu irmão, vai continuar vivo enquanto eu viver e quando eu me for, me espere aí do outro lado. Enquanto isso, haverá um universo paralelo onde permaneceremos ligados pelos laços de amor. Porque assim foi determinado na espiritualidade; não viemos irmãos à toa, tudo nesta vida tem seu propósito. Enquanto isso, eu cuido de você daqui, e você cuida de mim, daí. Quando eu não estiver mais aguentando de saudades, venha novamente como naquele sonho que tive contigo. Tão bom, tão real! Deus com certeza vai permitir que esses encontros aconteçam outras vezes. Poder sentir seu abraço, ouvir sua voz e conversar com você. Eu te amo, irmãozinho. Como irmão e como filho. Você foi meu bonequinho. Meu amado e querido companheirinho da melhor fase da vida de um ser humano. Agradeço a Deus pela oportunidade da nossa consanguinidade. Fique bem, esteja certo que você cumpriu sua missão. Receba meu amor e meu carinho.

Sua irmã mais velha
Andreia Sieczko

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